Por que ‘BBB21’ se tornou edição do ‘medo de cancelamento’?
Vontade de bombar carreira, olho nos seguidores e medo de perder contratos pesam tanto quanto o prêmio na hora de guiar comportamentos. Mesmo com medo, há cancelados
Só se fala em cancelamento no “Big Brother Brasil” deste ano. Às vezes, do medo constante de ser cancelado. Outras, de que é preciso dar uma “banana” para ele e viver de verdade.
Na primeira roda de conversa entre os participantes, quase todos os artistas citaram a palavra. A influenciadora Camilla de Lucas chegou a decretar que o tema desta edição seria “cancelando o cancelamento”. Mas o que os participantes mais fizeram na primeira semana foi sentir medo de falar demais e desagradar o público.
A atitude pode ser um reflexo da edição passada, que deixou cancelados, investigados, mas também alavancou carreiras e deixou uma porção de influenciadores digitais.
Quem não foi cancelado se deu muito bem. Babu Santana chegou ao “BBB20” endividado e saiu com contrato com a Globo e convites para projetos. Manu Gavassi emplacou séries e hits.
No “BBB21”, com 20 artistas e anônimos querendo bombar a carreira ou o Instagram, esse cenário ganha outras dimensões. Por isso, todos estão com medo de o tiro sair pela culatra e o saldo de estar ao vivo na TV gerar uma popularidade negativa. E isso deixou muitos participantes acuados na primeira semana:
- A youtuber Viih Tube já entrou “cancelada”. Em 2016, ela publicou um vídeo em que cuspia na boca de um gato e foi muito criticada. No “BBB”, ela disse que tem muito medo do julgamento da internet;
- O cantor e ator Fiuk fez aulas sobre feminismo antes de entrar no programa e, desde o começo da edição, se desculpa e chora “por seus privilégios”, já se preocupou se a palavra fulano carregava algum preconceito e se aproximou de pessoas que “militam’ dentro da casa;
- Lucas Penteado brigou com algumas pessoas na segunda festa e a maioria dos participantes se afastou dele por medo da associação. Além disso, Lucas tem recebido “sermões” e “conselhos” de outros brothers;
- Os participantes estão sempre policiando as palavras e atitudes, e uma lista de “termos proibidos” já foi até tema de conversa em festa;
- Palavras como desconstrução e evolução são sempre usadas pelos confinados, que ponderam, repensam e tentam justificar suas atitudes constantemente.
Cultura do cancelamento
A “cultura do cancelamento” é muito popular nas redes sociais e consiste em críticas massivas a uma pessoa por conta de um comportamento considerado errado. No caso de artistas, ela pode implicar na perda de público, seguidores, traba lhos, contratos e patrocínios, por exemplo.No episódio sobre cultura do cancelamento do podcast G1 ouviu, o jornalista e professor Arthur Dapieve explica que o cancelamento é produto do mundo binário em que vivemos.
“As redes sociais são binárias. Os próprios símbolos dados para curtir, descurtir tendem a ser binários, ou isto ou aquilo. E a vida, às vezes, é isto e aquilo ao mesmo tempo. Então fica mais um espírito de manada ‘vamos cancelar essa pessoa porque ela falou algo que eu não gostei’. A gente tende a confirmar aquilo que a gente já acha, existe essa carência nas redes sociais.”