Escritora do RS publica exercícios online para ajudar a lidar com o estresse na quarentena
Para a jornalista Cris Lisbôa, o hábito de escrever contribui para trabalhar angústias e sentimentos ruins, muitas vezes ampliados com o isolamento social
Em tempos de isolamento social e dias mais solitários, uma escritora de Porto Alegre tem disponibilizado exercícios online para ajudar a lidar com o estresse. Criadora da Escola Livre Go, Writers, Cris Lisbôa usa a palavra para aliviar as angústias dos alunos.
“Um dos estandartes da escola é a frase ‘tem coisa que só sai da gente por escrito’. Porque colocar sentimentos e emoções em palavras ensina a mente a pensar de forma mais complexa e isso ajuda nas relações com o mundo e a com e conosco, porque a palavra escrita, além de libertar a imaginação também nos permite reelaborar fatos. E refletir”.
Nos exercícios gratuitos de escrita, disponibilizados no perfil da escola no Instagram, os temas propostos pela escritora nem sempre estão relacionados à quarentena. Vão desde questões básicas como analisar a paisagem na janela, até aprender a ter “olhos de palavras”, para transformar o mundo em textos.
“As pessoas estão amando. Acredito muito no conceito de rede. Estamos criando para além da rede social, além da questão fria de estarmos conversando só na internet. As pessoas estão sendo convidadas para esse momento de reflexão e nada melhor que refletir pela escrita.”
Num dos posts da escola itinerante, Cris Lisbôa convida: “em tempos de distanciamento social, usa palavra pra chegar perto. Exercício de escrita: sem usar adjetivos descreve alguém em 4 frases. Pode publicar aqui nos comentários, marcar a pessoa que virou palavra. Vou amar te ler”.
Bruna Schilling aceita o desafio e escreve: “Ela dança tempestades internas na melodia dos raios. Sente os ombros tensos pela dor do adeus e o coração pulsar a calma de habitar o caos. Goza o fim dos tempos na ternura intrínseca ao desalento. Fala sobre as tonalidades de verde nas folhas com a luz do sol enquanto o mundo explode em distâncias e covas sem fim. Samba na corda bamba entre a presença e o zunido da mente que a rouba do agora. Quebra pratos, corta os dedos, relembra as sensações de ser um corpo vivo”.
“Ele é vida, é frio na barriga, é olhar encontrado no meio do trabalho, ligação inesperada entre um assunto e outro, um coração pra dizer que tava com saudades e um meme pra dizer que lembrou de mim. É alento em meio à loucura da vida, é companheirismo e parceria que não imaginava mais encontrar…liberdade de nos escolhermos todos os dias, é amor simples, quente e tenro como uma xícara de café num dia frio, como uma música do Chico tocando num sábado à tarde”, escreveu Viviane Genovez.
‘Saudade’
Para a escritora, é importante continuar trabalhando as emoções, principalmente a saudade, uma das mais latentes durante o distanciamento social. “Aquela palavra brasileira que não tem tradução para outras línguas e resume bem a falta dos momentos vividos”, diz.
“Nunca fez tanto sentido. Por escrito a gente consegue entender a saudade, quem nos faz falta mesmo, assimilar afeto, ver o que é presença. Tem uma frase que eu gosto muito do autor Ismael Caneppele, que fala que ‘estar perto não é físico’”, conta.