Assédio da ciclista é reflexo de um comportamento incoerente fruto de um transtorno coletivo, revelam especialistas
Neuropsicóloga e neurocientista falam sobre assédio ocorrido na cidade de Palmas, no Paraná
Uma mulher estava pedalando sossegada quando foi vítima de assédio por um homem desconhecido. O caso foi captado por uma câmera de monitoramento e rapidamente ganhou a internet. Dentre os mais diversos comentários, muita gente acredita que o assediador cometeu este delito na certeza de que não seria punido por isso.
> Clique aqui e vote no Prêmio Prime 2022 <
No entanto, conforme define a neuropsicóloga Leninha Wagner, “vivemos numa sociedade capitalista e de cultura machista.
As mulheres fizeram grandes conquistas, abriram caminhos sociais onde antes era impensada a participação delas.
Hoje ocupamos postos de trabalho de nichos absolutamente masculinos anteriormente. Estudamos mais, controlamos a natalidade por meios contraceptivos, temos mais informação e formação de nível superior.
Mas, isso não fez das mulheres aliadas dos homens, ainda nos veem como competidoras, uma adversária que agora é protagonista da própria história”.
> Concorra a um rancho do Macro Atacado Krolow <
Além disso, o modelo cognitivo masculino por via de regra, é de ser o macho alfa, o grande predador.
“Quer, portanto, estabelecer uma relação predatória. Enquanto isso, as mulheres estão ganhando espaço, como atores sociais importantes, e isso acarreta a mente masculina, uma espécie de ameaça para a posição social ou laboral deles”.
Para reverter este quadro, Leninha recomenda “modificar o modelo mental, tornar homens e mulheres, aliados, parceiros e sócios para a vida”.
A neuropsicóloga recorda ainda que atualmente as mulheres que sofreram assédio podem contar com o suporte da tecnologia:
> Assista a transmissão do Prêmio Prime 2021 <
“Quando uma vítima fala e denuncia traz voz a muitas outras que se calaram. Quando ela se cala, perpetua o crime, o desrespeito, silenciando todas as outras que foram desrespeitadas, violadas. Então aproveitem que existe este espaço e não deixem de denunciar casos como este. A situação só poderá mudar quando atitudes como essa forem tomadas pelas mulheres”, completa.
Complementando essa visão, o PhD, neurocientista e biólogo Fabiano de Abreu acredita que o caso traz à tona uma outra questão pouco debatida até então:
“Fala-se muito em impunidade no Brasil, mas não vejo desta forma. Até porque ninguém quer correr o risco de ser preso ou responder a um processo a não ser que lhe falte coerência e raciocínio lógico. Eu acredito que algumas ações estão relacionadas à falta de percepção das consequências, a um narcisismo exacerbado e cultural, onde a pessoa quer se destacar, pensa ter algum tipo de superioridade, cometendo atos com inconsequência”.
> Receba as notícias do Clic pelo WhatsApp <
Além disso, ele observa que “a má qualidade no processo educacional do Brasil, uma herança antiga que já perdura décadas, vinculado à ansiedade do brasileiro relacionada à violência, economia e política, influencia ao maior consumo de internet, rede social, para a liberação de neurotransmissores da felicidade, como a dopamina, para recompensar e afastar a atmosfera negativa imposta pela ansiedade, que é uma pendência e busca através da amígdala cerebral um mapa de opções de memórias negativas para uma melhor solução. Todo esse processo prejudica a conexão do córtex pré-frontal, região racional do cérebro, com o sistema límbico, região da emoção no cérebro, acarretando em comportamentos incoerentes, como este caso”, completa.