Advogada fala sobre absolvição de moradora de Dom Feliciano que matou marido: “Era ela e os filhos ou era ele”
Advogada Mikaela Schuch participou do Manhã Show e falou sobre a absolvição de Elizamar de Moura Alves, que matou o marido em fornalha de fumo
Na manhã desta quinta-feira, 28 de abril, a advogada que fez parte da defesa falou sobre a absolvição de uma moradora de Dom Feliciano que confessou ter matado o marido. Mikaela Schuch fez parte da defesa de Elizamar Moura de Alves, de 36 anos, absolvida pelo Tribunal de Júri na noite desta quarta-feira (27).
Ela constituiu a defesa junto aos colegas advogados Marcos Hauser e Igor Garcia. A advogada concedeu entrevista ao programa Manhã Show e falou sobre o julgamento ocorrido em Camaquã.
Na entrevista, Mikaela falou sobre violência doméstica na região e sobre a situação que Elizamar chegou para que fosse necessário de defender da forma que se defendeu: “Era ela e os filhos ou era ele”, relatou.
Junto com a equipe responsável pela defesa, a tese defendida foi a de legítima defesa por parte de Elizamar. A advogada se emocionou ao falar sobre a decisão do Júri e ressaltou a importância do combate à violência doméstica:
“Ontem eu não defendi apenas a Elizamar. Eu defendi todas as mulheres, defendi a minha filha que estava lá me assistindo. Isso traz a importância de mostrar a força da mulher”
Ela também contou que a repercussão do caso à nível estadual também ajuda a suscitar o debate da violência doméstica.
Assista a entrevista com a advogada Mikaela Schuch:
Ré absolvida
No começo da noite desta quarta-feira, 27 de abril, o Tribunal do Júri chegou à sua decisão final e a mulher que dopou e incinerou o marido foi absolvida. O resultado foi recebido com grande emoção por familiares e principalmente por Elizamar de Moura Alves, de 36 anos.
Ela foi considerada inocente das acusações e teve um alvará de soltura imediata expedido.
Na foto abaixo, Elizamar abraça a filha Denise após a decisão final do Júri. Também houve grande comoção dentre a família, que acompanhava o julgamento.
O crime
Elizamar confessou ter dopado o marido Erni Pereira da Cunha, de 42 anos, com comprimidos de Diazepan e em seguida, queimado seu corpo por três dias em uma fornalha de fumo, na propriedade familiar em Colônia Nova, interior de Dom Feliciano.
O caso ocorreu em 14 de fevereiro de 2021. No dia 15/02, ela registrou seu desaparecimento. Após suspeitas da família de Erni, a Polícia Civil passou a investigar o caso e conseguiu a quebra de sigilo telefônico da mulher.
Nele, foi localizada uma pesquisa de como envenenar uma pessoa. Em maio de 2021, a Polícia foi até a residência e Elizamar confessou o crime.
Ela conta que foi vítima de agressão por cerca de 20 anos. Depois de mais uma agressão, na ocasião do assassinato, ela tentou se defender de um dos golpes desferidos por ele e acabou deixando o homem desmaiado.
Por medo de represálias contra ela e os filhos, o dopou e queimou seu corpo em uma fornalha.
O júri
A tese da defesa foi aceita pelo Tribunal de Júri. Elizamar contou, em seu depoimento, ter sido agredida por mais de vinte anos pelo marido.
O julgamento começou às 9h desta quarta-feira (27) e se estendeu ao longo do dia, tendo um veredito com a ré absolvida apenas próximo às 22h.
O Ministério Público (MP/RS) foi representado pelo promotor Francisco Saldanha Lauenstein. O juiz responsável por conduzir o julgamento e por ler a sentença foi Daniel de Souza Fleury.
A reportagem do Clic Camaquã acompanhou o Tribunal de Júri, que teve depoimentos de três testemunhas de acusação e três de defesa. Foram elas:
Acusação (arroladas pelo Ministério Público)
- Alexandre Ribeiro Elias – Inspetor de Polícia da Delegacia de Dom Feliciano
- Everson Nogueira Barbosa – Inspetor de Polícia da DP de Dom Feliciano
- Vivian Sander Duarte – Delegada de Polícia
Defesa (arroladas pelos advogados)
- Cleusa Barreto – Suposta amante de Erni
- Denise Alves Cunha – Filha de Elizamar e Erni
- Edson Luis de Almeida Moreira – Proprietário de bar frequentado por Erni
Depoimento da filha
O depoimento da filha Denise Alves foi um dos mais marcantes do julgamento. Nele, ela relatou uma rotina de agressões físicas, verbais e psicológicas, sofridas em boa parte de sua vida, que tinham como autor o seu pai e que tinham como principal alvo, sua mãe:
“Minha mãe chegou no limite. Se ela fez o que fez, foi pensando em mim, no meu irmão e na vida dela”, contou Denise, filha do casal.
No depoimento, ela falou sobre as agressões sofridas pela mãe e reiterou que as mesmas ocorreram por anos.
“Nós vivíamos um inferno dentro daquela casa. Eu não desejo pra ninguém!”, contou.
Ela foi consolado pela avó após seu depoimento e por alguns minutos, permaneceu aos prantos em seu lugar.
Ao longo de todo o julgamento, Denise era a familiar mais abalada, como relatou em seu depoimento. Também foi a mais emocionada após a mãe ser absolvida.