ClicTV: CRAS Getúlio Vargas utiliza orquestra como ferramenta de inclusão social
Projeto tem como objetivo desenvolver talentos, fortalecer vínculos e oferecer formas de superar a vulnerabilidade social
O Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) Getúlio Vargas realiza um importante trabalho, com foco em pessoas em situação de vulnerabilidade social. Há 15 anos, a Orquestra de Câmara Getúlio Vargas (OCGV) reúne jovens talentos da comunidade com o objetivo de desenvolver um novo viés social aos assistidos e suas famílias.
Através da música e da arte, o projeto trabalha a participação e convivência social e o fortalecimento de vínculos entre os assistidos, seus famílias e as comunidades que participam do centro de referência. Segundo a psicóloga Taiane Ávila, a orquestra é uma forma de empoderamento social: “Quando estamos isolados, nos tornamos enfraquecidos e suscetíveis a doenças e transtornos mentais e emocionais. Dentro deste trabalho, todos os envolvidos podem se tornar protagonistas de suas vidas”, completa.
Cerca de 16 alunos participam da orquestra e as aulas são ministradas pelo maestro Gil Soares, de Pelotas. Ele foi convidado a participar do projeto em 2012, pelo maestro Luís Borges, que passou a coordenação da OCGV para Gil no ano seguinte, após ser aprovado em um concurso em Bagé. “Foi uma surpresa. É um projeto muito delicado, que precisa ser feito com muita convicção. Não se trata simplesmente de formar músicos de excelência, mas sim cidadãos conscientes.”, afirma o maestro.
Patrick Tavares, 17 anos, é assistido pelo CRAS Getúlio Vargas e está na orquestra há 11 anos e toca violino. “Eu e o violino é uma coisa inseparável. É um amor que construí com o tempo. Antes eu não tinha o que fazer e ia para a rua brincar. Mas aqui dentro sou mais calmo, sempre disponível para ajudar. Pretendo estudar e seguir carreira como músico, me apresentando em eventos.”, conta o menino.
O Felipe Rodrigues, de 17 anos, seguiu o exemplo do irmão, que também tocava violino na OCGV: “A primeira coisa que fiz quando completei sete anos foi me inscrever nas aulas de violino.”. Emocionado, o garoto disse que o incentivo dos professores fez com que ele não desistisse do sonho de tocar o instrumento. “As coisas aqui não são fáceis, mas quando estou aqui, a música me faz esquecer dos problemas. A minha forma de enxergar o mundo é diferente; é um mundo melhor, mais legal. Eu não estou nesse mundo, estou numa realidade bem diferente. Mas vou estudar bastante, me profissionalizar e ser um bom professor igual a todos os meus professores”, complementa o adolescente.
A música também corre nas veias da família de Kristopher Fagundes. A mãe e o tio do garoto de 17 anos tocavam violino no CRAS, além de praticamente toda família dele ser composta por músicos. Kristopher toca teclado e saxofone na Orquestra da Câmara Getúlio Vargas. “Eu tinha problemas de depressão, ansiedade e respiração. Tocar os instrumentos me ajuda a me controlar emocionalmente. Também comecei a fazer mais amigos. Aqui eu sempre vou aprendendo, me aprimorando. Além de ensinar para os pequenos que chegam, também aprendemos. Isso é uma coisa que eu sempre gostei muito”, conta.
O maestro Gil afirma que o CRAS enfrenta diversas limitações materiais e financeiras, mas reforça que o foco do projeto vai além do desenvolvimento dos talentos musicais e artísticos. “O compromisso social está em primeiro lugar. Um orquestra representa muito bem uma noção de microcosmos de uma sociedade. Aqui, por menor que seja a nota de um aluno, ela é essencial para que o concerto se realize corretamente. Os alunos aprendem a entender o outro e respeitar o espaço dele. Eles aprendem disciplina, desenvolvem as capacidades intelectuais, motoras, respeito, autoestima e convivência. Oferecemos outra alternativa para que eles não estejam na rua e superem a vulnerabilidade social”, explica.
Além da orquestra, o CRAS possui uma escola de música. São cerca de 70 alunos de musicalização. Para comemorar os 15 anos da OCGV, o CRAS Getúlio Vargas vai realizar um evento no Cine Teatro Coliseu, dia 22 de novembro.
O evento inicia às 19h, é aberto ao público e tem entrada franca e também faz parte das atividades de encerramento do ano de 2018.
O concerto vai contar com a presença de ex-alunos e ex-professores da Orquestra de Câmara. O CRAS reforça o convite para que a comunidade camaquense prestigie o trabalho desenvolvido pela equipe e pelos assistidos.