Entenda os próximos passos do processo de capitalização da Eletrobras, informa CNN Brasil
Anúncio da oferta de ações foi feito nesta sexta (27); de acordo com a estimativa da Eletrobras a operação irá movimentar cerca de R$ 35 bilhões
A Eletrobras lançou nesta sexta-feira, 27 de maio, a oferta de ações com vistas à sua capitalização, uma operação que deve movimentar cerca de R$ 35 bilhões, após a conclusão do julgamento da desestatização da Eletrobras pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Segundo especialistas, o processo agora segue sendo mercadológico, focado na divulgação da empresa, do potencial lucro que ela pode proporcionar e no convite aos grandes investidores para aplicar nas ações da Eletrobras.
De acordo com o sócio-diretor da LCA Consultores, Fernando Camargo, o anúncio da oferta de ações ocorreu porque os prospectos de lucro que vinham sendo feitos já estariam, segundo ele, “adiantados e otimistas.”
Segundo a analista de economia da CNN Thais Herédia, o governo federal espera concluir a capitalização da Eletrobras em até 15 dias, depois que a companhia registrou pedido de oferta de ações nas agências reguladoras do Brasil e dos Estados Unidos.
Para Paulo Bittencourt, consultor de investimentos com 30 anos de experiência no mercado de capitais, considera que os grandes gestores de fundos e investidores com prática no mercado já estão preparados para a capitalização da empresa.
A capitalização da empresa, avalia Bittencourt, passou pelo Legislativo com “tranquilidade” a partir do momento que os parlamentares perceberam que o valor necessário para que a Eletrobras dê continuidade aos investimentos em energia, principalmente no Norte do país, acabaria afetando o orçamento e o dinheiro destinado às emendas. “A Eletrobras se tornou um bicho inconveniente”, diz.
Oferta de ações
A operação de capitalização envolverá uma oferta primária e secundária de ações ordinárias realizada simultaneamente no Brasil e no exterior, o que diluiria a participação do Estado na empresa de 72% para pelo menos 45%.
A oferta primária será, inicialmente, de 627.675.340 novas ações. Já a oferta secundária será de 69.801.516 ações atualmente detidas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O prospecto aponta que a cotação de fechamento das ações ordinárias de emissão da companhia na B3 e dos ADSs, em 26 de maio, foi, respectivamente, de R$ 44 e de US$ 9,23 por ADS representadas por ADR, valores estes meramente indicativos para a operação, “podendo variar para mais ou para menos, conforme a conclusão do Procedimento de Bookbuilding”.
O comunicado detalha ainda que a quantidade de ações da oferta inicial poderá ser acrescida de um lote suplementar de até 15% do total das ações.
Fernando Camargo considera que as próximas etapas serão simples. “O que tem de ser feito agora é o processo de convencimento dos acionistas”. Para o especialista, isso é algo que já está muito avançado. “Os bancos têm muita capacidade de diálogo com investidores, não enxergo nenhum risco quanto a isso”.
O que vem a seguir
Após o anúncio da oferta de ações que ocorreu nesta sexta-feira, João Lorenzi, analista da Encore Asset Management, explica que o processo segue dependendo da própria Eletrobras, em conjunto com os bancos que foram alocados pelo governo para realizar a capitalização.
Segundo o analista, a partir desta sexta até o dia 9 de junho, ocorre a etapa chamada de “road show”, quando os bancos entram em contato com alocadores e fundos de investimentos para “vender” a companhia e angariar interesse por parte do mercado e angariar capital.
Já no dia 3 de junho terá início a “priority offering”, ou seja, aqueles que já possuem ações da empresa ou os que foram escolhidos pela estatal terão prioridade no momento da distribuição de ações.
Lorenzi exemplifica: “supondo que tenho R$ 25 bilhões para distribuir em ações da Eletrobras e a demanda é de R$ 30 bilhões, quem tem o “priority” ficará com o montante solicitado e depois o processo segue”. Os investidores que desejam entrar na ordem de prioridade têm até o dia 7 de junho para se manifestarem
Em seguida, no dia 8 de junho, será aberto o “Retail and ELET FMP”. Trata-se do fundo do FGTS que trabalhadores podem utilizar para investir na estatal.
Quando o processo de capitalização foi aprovado pelo TCU, ficou definido pela corte que os trabalhadores de qualquer setor que tenham recursos no FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) poderão utilizar até 50% do fundo para comprar ações da empresa. O mecanismo usado para este processo é o Fundo Mútuos de Privatização, criado em 2000, e já usado em outros casos, como na Vale e na Petrobras.
No dia 9 de junho terá início a precificação. Neste dia será analisado o preço médio que os investidores demonstraram ter interesse em pagar pelas ações da Eletrobras.
Em seguida, no dia 10 de junho, tem início, nos Estados Unidos, a compra e venda das ações. No Brasil, o “trade”, como é chamado, deve ser iniciado logo no dia 13 do mesmo mês.
Questionado se ainda existe algum risco à capitalização, João Lorenzi, diz que o risco de judicialização “permanece, mas é mínimo”. Para o especialista, após a conclusão do julgamento por parte do TCU, o processo foi “chancelado”.
“Questionamentos que possam ser feitos quanto a cálculo e preço já caíram. Existe risco? Sempre existe, mas é mínimo”.
Para Paulo Bittencourt, no dia do trade, as ações da empresa podem alcançar uma valorização de até 10%. “É um investimento de longo prazo, mesmo com ações valorizadas, grandes investidores e fundos vão observar para os futuros dividendos, vamos nos surpreender positivamente”.
Desestatização
No último dia 18, o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou por maioria a continuidade do processo de capitalização da Eletrobras, em que a União deixará de controlar a maior parte do capital acionário da estatal. Foram 7 votos favoráveis e um contra, do ministro Vital do Rêgo.
O julgamento no TCU envolveu a segunda parte da análise da capitalização, referente à modelagem do procedimento. Em fevereiro deste ano, o órgão já havia aprovado as estimativas do valor movimentado pelo processo, na casa dos R$ 67 bilhões.
Na maioria das grandes privatizações que aconteceram desde o final dos anos de 1990, houve protesto e muitas tentativas de inviabilizar o negócio. Até mesmo a própria Eletrobras teve a venda das subsidiárias suspensa no governo Fernando Henrique Cardoso por causa dos protestos políticos.
A Eletrobras tem perto de 51 gigawatts (GW) em capacidade instalada de geração — equivalente a 29% do parque gerador do Brasil — e mais de 70 mil km de linhas de transmissão, ou 43,1% da rede nacional.
A companhia terá ainda que realizar mais de R$ 30 bilhões em aportes à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) ao longo dos anos, para ajudar a aliviar tarifas de energia para consumidores, além de direcionar recursos para revitalização de bacias hidrográficas.
Texto: CNN Brasil.