Endividamento agrícola volta a preocupar no RS
Situação mais dramática é vivida por produtores de arroz
Um velho fantasma voltou a assombrar produtores do Rio Grande do Sul: o endividamento agrícola. A situação mais dramática é vivida pelos arrozeiros e suscita a retomada de medida adotada no passado: a securitização. Essa renegociação foi fundamental para dar cabo de dívidas – consideradas impagáveis – acumuladas no final de 1980 e início de 1990. A iniciativa divide opiniões, mas começa a ser discutida em comissão externa da Câmara Federal, com audiências no Estado.
– A intenção é levantar o tamanho da dívida da produção brasileira, ver se existe margem para a securitização – explica o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
Na década de 90, o endividamento do setor motivou a implementação de uma comissão parlamentar mista de inquérito. Por ora, a ideia é seguir com a comissão externa, considerada mais ágil segundo o deputado. O cenário atual, no entanto, é diferente. Há quem considere pior, porque grande parte do débito foi acumulada fora do sistema de crédito oficial. Sem condições de acessar os financiamentos bancários, muitos produtores recorreram a indústrias e cerealistas para bancar custos.
– No passado, o sistema financeiro era o principal credor. Hoje, a dívida é silenciosa, porque o governo não tem noção do tamanho, não conseguiu quantificar e nem sentir isso como um problema. O caso do arroz é emblemático porque é uma cultura muito cara, que exige capital de giro elevado – opina Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS).
Para o dirigente, a securitização sozinha não resolverá o problema. Ele aponta a falta de “ordenamento de mercado”, com preços nas gôndolas “abaixo do viável”, sem a intervenção do governo, como questão a ser resolvida. Mudança na posição da indústria também se faz necessária, avalia, lembrando que no milho, por exemplo, começou a se trabalhar com preço pré-fixado.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, e o advogado Ricardo Alfonsin – que acompanhou o processo de securitização – veem diferença entre a situação atual e a passada. Alfonsin lembra que em 90 as dívidas eram “generalizadas”.
– Agora, vejo a coisa ainda muito setorizada. No Estado, tem a questão do arroz, que é um problema – observa Gedeão.
Ele diz que a entidade focou em ações para tirar a pressão sobre preços. Foram negociados leilões e prorrogação dos financiamentos. Com o poder de corroer a produção agrícola, o endividamento é assunto sério e precisa ser tratado como tal.