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A Melhor Hora Para Morrer


Por Redação/Clic Camaquã Publicado 08/08/2019
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Eu tento resistir para não tornar a falar sobre este assunto. Mas desde que estive perto do fim no ano de 2018 quase diariamente sou alvo de recordações desagradáveis que vivi dentro daquele mundo onde o branco das enfermeiras e o azul dos revestimentos das camas ajudam a enfeitar aquele ambiente monótono e de tormentos que é o ambiente hospitalar.

Numa das tardes longas e tristes no hospital de Itajaí-SC  onde me hospitalizei pela primeira vez, eu estava sentado numa   pequena ala de visitas num vão do  corredor em frente a uma TV que era praticamente o único item que nos causava um pouco de alegria, desde que funcionasse. O que era difícil. Uma vez conversei com um presidiário que parecia um daqueles personagens de filmes de ação.

O cara tinha histórias de arrepiar que viveu no inferno dos cárceres brasileiros. Mas não foi ele quem me contou algo que me ajudou muito a enfrentar a cirurgia que eu não queria fazer. Eu estava com muito medo e a conversa com um senhor de pouco mais de 60 anos me deixou otimista. Ele estava sentado tranquilamente num dos bancos. Ele tinha do lado do pescoço dois pequenos canos de plástico com um maço estufado de algodão grudado por fitas brancas largas.  Aquilo era um acesso que estava  ligado a sua jugular.

Eu mesmo usaria vários por um bom tempo. O que havia de diferente é que aquele homem sorria serenamente como se estivesse sentado à beira do mar bebendo cerveja com uma tranqüilidade que me causou curiosidade. Iniciamos nossa conversa falando de música. Então eu disse que gostava muito do tango “Hoje quem para sou eu” que muito ouvi na voz de Nelson Gonçalves.

Então ele cantou toda a música como se estivesse numa festa entre amigos. Deixou-me até um pouco constrangido por causa das pessoas na volta que não entendiam sua atitude antipática para um ambiente que lembra morte e sofrimento. Foi então que ele me contou que tinha despertado a pouco tempo  de um estado de coma que durou doze dias. Ele teve sérias complicações dentro de seu quadro clínico. Ele relatou que acordou com sua esposa ao lado de seu leito.

Sua esposa estava muito emocionada e perguntou se ele estava bem. Ele disse que sim. Ela  revelou que ele tinha estado os dose dias sem acordar. Com uma calma e uma paz de dar inveja ele disse que se tivesse morrido naquele estado, ele teria a melhor morte. Uma morte feliz. Então em fiquei torcendo para morrer na mesa de cirurgia. Eu não queria mais viver. Eu não sentia mais vontade de continuar neste mundo. Mas eu tinha muito medo de sofrer e morrer aos poucos como testemunhei em vários casos.

Semanas depois no Hospital de Clínicas de Porto Alegre quando finalmente cheguei de cadeira de rodas naquele ambiente que parecia cenário de filme do Guerra nas Estrelas, eu estava tranqüilo que nem aquele homem que conversei em Itajaí . Eu estava na esperança de morrer em paz. Morrer sem sentir dor. Eu estava preparado para fazer a viagem mais extraordinária que jamais havia feito em toda a minha existência. Uma máscara foi colocada gentilmente em meu rosto.

O anestesista conversava calmamente comigo pedindo para eu respirar profunda e lentamente. Meus olhos foram se fechando…se fechando… e eu apaguei. Como se eu tivesse viajado na velocidade da luz ou do pensamento, apesar de terem se passado quase vinte horas,  acordei-me como se nada tivesse acontecido na UTI com minha irmã do meu lado. Para a minha alegria ou decepção para quem tinha desistido de tudo, eu tinha sobrevivido. A morte tinha ido atender outro cliente.

Seguiram-se dias de muita dor e sofrimento no pós-operatório e, após minha alta, um sentimento de solidão e abandono que espero nunca mais enfrentar .  Eu aprendi que a morte não chega quando estamos  preparados. Não existe um botão que possamos desligar para evitar o sofrimento a não ser o suicídio que nunca é a melhor solução. A morte  é traiçoeira. Ela prefere nos levar quando estamos  bem vivos, usufruindo do melhor de nossas vidas. Ou nos leva bem de vagarinho. Tirando o pouco do pouco da  dignidade que ainda nos resta.


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