Os 65 anos da Sinaleira Francesa
No último dia 11 de setembro registrou-se os 20 anos dos ataques às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque – episódio de repercussão mundial. Enquanto isso aqui em Camaquã os 65 anos do maior símbolo da cidade passava quase desapercebido.
Por tradição oral e em virtude de algumas datas em fotografias antigas acreditava-se que a famosa Sinaleira Francesa fora instalada no cruzamento das Avenidas Olavo Moraes com a Presidente Vargas (na época Benjamin Constant) no ano de 1953, quando inclusive foi inaugurada a Praça Donário Lopes.
Contudo um documento, encontrado no Memorial da Câmara de Vereadores após pesquisa da servidora Andreia Becker, veio desfazer o equívoco. Em verdade a sinaleira, que a maioria dos pesquisadores acreditava ter sido um presente do governo francês para Camaquã, foi adquirida no primeiro ano do segundo mandato do prefeito Sylvio Luis Pereira da Silva, em 1956 (conforme projeto de lei abaixo), no mesmo ano em que foi fundado o jornal O Camaquã. Todos estes aspectos reunidos revelam a disposição das autoridades da época em colocar a cidade no rumo da modernidade.
Vale ressaltar que uma fotografia postada no facebook pelo comunicador Adílio Ratto Jr. parece, finalmente, desvendar o mistério. A imagem traz uma sinaleira idêntica (foto) no cruzamento das Avenidas Farrapos e Voluntários da Pátria, área central de Porto Alegre, provavelmente nos anos 1950. Ocorre que na época dos anos dourados o prefeito Sylvio Luis, um aficionado pelo turfe, boêmia e jogos de azar costumava ir à capital, em particular no Hipódromo Moinhos de Vento para acompanhar as “carreiras” de seus cavalos no Jóquei Club do RS (hoje sediado no Hipódromo do Cristal). Ele também era assíduo frequentador das casas noturnas da Av. Voluntários da Pátria – sua fama está descrita no livro “A noite dos cabarés”, de Juremir Machado da Silva.
Suposição minha: desconfio que numa de suas andanças o Cel. Sylvio Luis adquiriu uma sinaleira semelhante, que pode muito bem ter sido presenteada ao Brasil para ser colocada em grandes centros urbanos. Afinal “a troco de quê” o governo francês iria presentar uma pequena cidade interiorana do porte de Camaquã? Não precisa ser nem um gênio para intuir que este negócio tem a mão do coronel, pois segundo consta existem somente três sinaleiras iguais a esta no Brasil.
O fato é que contra documento não existe argumento. A sinaleira francesa conforme o projeto de lei foi adquirida em 11 de setembro de 1956 pelo governo municipal, há 65 anos portanto. Ela tornou-se um cartão postal da cidade visto que existem pouquíssimos monumentos similares no país. Face a beleza e relevância histórica, a sinaleira, que devido a um acidente de trânsito foi recentemente restaurada pelo poder público, merece ser tombada, conforme pretendia o vereador Everton Clarão.
Recentemente foi apresentado um proposta para a criação do Calçadão do Centro, e seria de bom tom que o poder público acrescentasse ao projeto a construção de uma réplica da sinaleira neste local para que a comunidade e visitantes pudessem interagir de perto com este patrimônio histórico, porque uma coisa é fotografar a sinaleira é outra bem diferente é tirar uma foto ou selfie ao lado da sinaleira. Do ponto de vista turístico certamente Camaquã ganharia muito com as imagens sendo postadas à exaustão em redes sociais.
Independente de como a sinaleira veio para cá importa mesmo é que aquele espaço sempre foi lugar de comemorações de diversas tendências, desde a política, o Carnaval e até o futebol. Quem não lembra ou ao menos ouviu ao falar dos alto-falantes do falecido comerciante tricolor Jorge Atrib, pendurados na sinaleira, irradiando os gols de seu time do coração?
Clic Humor com Sabedoria: “Querem conhecer a civilização de um povo? Reparem naqueles que erguem monumentos.” (Cesare Cantú)
Documento do Memorial da Câmara Municipal de Vereadores
SYLVIO LUIZ PEREIRA DA SILVA, Prefeito Municipal de Camaquã, Estado do Rio Grande do Sul,
FAÇO SABER, em cumprimento do disposto no inciso II do art. 50 da Lei Orgânica do Município, que a Câmara Municipal pela Resolução nº 15, de 10 de setembro de 1956, decretou e, Eu, sanciono e promulgo a seguinte Lei:
Art. 1º – É aberto um crédito especial de Cr$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) destinado ao pagamento de aquisição de uma sinaleira automática e sua instalação feita no cruzamento das Avenidas Benjamin Constant e Olavo Moraes pela Delegacia de Trânsito do Estado.
Art. 2º – Servirá de recurso para cobertura do crédito aberto no art. 1º, as reduções em igual quantia, nas dotações da rubrica a) Prêmios de Seguros e Indenizações por Acidentes; e, b) Prêmios de Seguros e Indenizações contra fogo, do código geral 8.94.4, do orçamento em curso.
Art. 3º – Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º – Revogam-se as disposições em contrário.
GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE CAMAQUÃ, 11 de setembro de 1956.