O último voo do comandante Meirelles
O piloto Carlos Eugênio Meirelles. Foto: Arquivo Criarte
A cultura camaquense e regional está de luto. Faleceu na madrugada de domingo, 11 de abril, em Pelotas, vítima de complicações respiratórias, o piloto e instrutor de voo aposentado, Carlos Eugênio Meirelles, 83 anos. O velório e sepultamento, em uma cerimônia restrita para familiares, ocorreu em Canguçu, sua terra adotiva. Carlinhos, como era carinhosamente chamado, foi um homem além de seu tempo e sua trajetória foi marcada pela cultura e a solidariedade.
Natural de Camaquã, ele nasceu em 11 de setembro de 1937, mas sempre esteve muito ligado ao município de Canguçu, onde é autor da letra do Hino Municipal, e ocupa uma cadeira na Academia Canguçuense de História – ACANDHIS. Carlinhos ou Saravá, como era conhecido, é um personagem ímpar da cultura camaquense, e foi o primeiro bibliotecário da cidade, nos anos 1960.
Poliglota, que dominava diferentes idiomas, falava fluentemente o português, inglês, francês e espanhol, além de conhecer o alemão, italiano e o latim. Segundo o intelectual, que também foi professor de inglês e escrevia poemas, em particular sonetos, a leitura é a melhor arma contra a ignorância e a falta de humanidade. Seus versos foram publicados em 2019, na Antologia VI da CAPOCAM comemorativa aos 30 anos da Casa do Poeta Camaquense, entidade que muito admirava.
O Comandante Meirelles iniciou sua carreira na aviação em 1968, e foi piloto das companhias aéreas Cruzeiro e Varig, tendo viajado por todo o Brasil, e aterrissado aviões em três continentes, sem nunca ter se envolvido em qualquer tipo de acidente em 43 anos de trabalho. Estudioso de diversos temas, inclusive sobre ufologia, nos anos 1980, teve seus relatos sobre visões de ovnis exibidos no Fantástico da Rede Globo e no conceituado canal Discovery.
O caso teve tanta repercussão, que em 2014, a revista especializada UFO fez uma grande reportagem relembrando o episódio de avistamento, que se deu nos céus do extremo oeste paranaense, na chamada tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. O Caso Foz do Iguaçu, como ficou conhecida esta ocorrência, se deu em 22 de agosto de 1985, com uma aeronave modelo Airbus A300 durante o percurso de ida e vinda do Rio de Janeiro a Assunção, no Paraguai. Nesta viagem o comandante Meirelles atuava como engenheiro de voo e segundo oficial a bordo.
Em minha página, que teve grande repercussão no facebook, escrevi: “Sentirei saudade deste comunista guarani e de nossas conversas de bar cheia de histórias e conhecimento. Nossos sinceros sentimentos à família e a estimada professora Janice Flores, que foi a companheira de viagem nos últimos anos do Carlinhos aqui na Terra. O aviador aposentado neste momento está fazendo um voo de reconhecimento entre as nuvens para aterrissar no paraíso.”
Clic Humor com Sabedoria:“Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser.” (Cecília Meirelles)