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O amor em tempos de coronavírus


Por Redação/Clic Camaquã Publicado 05/11/2021
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Na coluna desta semana quero dividir com os leitores minha primeira incursão pelo mundo do conto. Ele foi escrito inspirado na obra “O amor nos tempos do cólera”, de Gabriel García Márquez, e que de certa forma tem muito a ver com estes tempos de pandemia.

Mercedes colocou o livro sobre o bidê ao lado da cama, e cansada logo cerrou os olhos. Dormiu desejando que esta maldita pandemia passe o mais rápido possível. Ato contínuo a última imagem daquela noite foi se dissipando com uma pergunta que não queria calar: Onde e o que estaria fazendo Gabriel naquele momento?

Cursando o último semestre de Comunicação na PUCRS, a jovem que viera do interior em busca de uma nova vida na capital, nunca teve um grande círculo de amizades. Aliás nem grande nem pequeno. Mercedes era uma jovem diferente para os padrões atuais. Não frequentava baladas e sequer academias de ginástica. Dona de um corpo esbelto, 1m65 de altura, loura de olhos verdes, desde menina adorava ler. Seu estilo preferido eram os romances, mas não aqueles chorosos e sentimentalistas, ela lia obras onde as relações estivessem interligadas a contextos históricos e geográficos. O vate colombiano Gabriel García Márquez – Prêmio Nobel de Literatura em 1982 – com 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas, era o seu autor de cabeceira.

Agora aos 24 anos perdera as contas de quantos livros do gênero seus olhos já haviam devorado. Sua pós-adolescência foi marcada pela personagem Capitu da obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; e como esquecer os romances de Eça de Queiroz, a força feminina de Lygia Fagundes Telles ou a beleza estética e filosófica de Umberto Eco. Outra coisa que para ela não importava era se a obra fora escrita por um autor nacional ou estrangeiro. Sempre repetia mentalmente como um mantra: – livro bom não tem nacionalidade! 

Mas não tinha jeito o seu predileto sempre foi e será Gabriel García Márquez. Ela nunca esqueceu o dia 17 de abril de 2014, quando os noticiários anunciaram a morte do seu ídolo literário. Lutando contra um câncer, e com uma cruel perda de memória o escritor já havia parado de escrever em 2009. Seus últimos dias de vida se arrastaram como se fosse a crônica de uma morte anunciada, o livro que ela estava lendo no momento.

Mercedes lembra que naquele dia ela saiu mais cedo da faculdade. Chorou muito àquela noite agarrada a obra magistral “Cem anos de solidão”, editada em 1967 – ano de nascimento de sua genitora – um livro único, que conta a vida de várias gerações de uma família  interiorana de classe média, e que parecia muito com a sua onde uma mulher forte exerceu seu poder matriarcal até morrer no ano passado, vítima da covid 19, com apenas 53 anos, sem poder ver a única filha formada.

O referido livro é o mais lido em língua espanhola no mundo perdendo somente para “Dom Quixote de la Mancha”. Ela se encantou de cara pelo título quando o vislumbrou num sebo logo que chegou a Porto Alegre. Solidão, aliás, também é um sentimento – um substantivo abstrato – muito presente em sua vida. Vale ressaltar que foi o pai, embora ausente, por ser um típico homem da pampa gaúcho – vendedor e comprador de gado – que lhe pusera o nome, Mercedes. Coincidentemente o nome da esposa de Gabriel García Márquez, que o velho, distante do mundo das letras, nem sabia que existia. Os demais irmãos, todos batizados com a letra “M”, eram: Melquíades. Mathias e Maurício. Eles nunca interagiram com a irmã caçula, talvez daí venha seu instinto solitário.

 E por sentir-se só, embora considere os livros uma grande companhia, Mercedes criou um perfil no facebook onde faz posts, praticamente, todos culturais, desde sugestão de livros que já leu, autores e curiosidades sobres suas vidas, e alguns poemas que escreve periodicamente, embora não se considere uma poeta. O mais recente que ela publicou nas redes, com um título muito sugestivo: “Vi…ver”, que recebeu inúmeros comentários positivos, inclusive um que está mudando sua vida.

E foi justamente nas redes sociais, tentando enganar os seus 24 anos de solidão, que Mercedes encontrou um anjo chamado Gabriel. Ele um nordestino de Recife/PE, órfão de pai e mãe, filho mais velho de uma prole de onze irmãos, como tantos retirantes foi para São Paulo em busca da “sorte grande”. Trabalhava na construção civil e estudava a noite. Nunca fora afeito a frequentar bares, e beber somente em ocasiões muito especiais. Com muito sacrifício formou-se em Medicina pela USP. Agora aos 35 anos, aquele moreno encantador de 1m75, olhos e cabelos escuros, estava vivendo seu maior desafio como médico. Na falta de profissionais da saúde, em vários estados do país, embarcou para Manaus, onde está isolado há vários meses.

Sua luta é diária, trabalhando com equipamentos precários faz o possível e o impossível para salvar vidas. No final de turnos exaustivos, quando as imagens daquelas mortes anunciadas vão se diluindo, Gabriel descansa o corpo numa cama simples, no pequeno hotel onde está hospedado, e só um nome lhe vem à cabeça: Mercedes. Como estará a minha “gauchinha” – adjetivo carinhoso que ele a chama – desde o dia em que fez aquele comentário sobre um poema que a sua futura esposa, postou no facebook. Lembra-se da frase como se fosse hoje, embora dois anos já tenham se passado desde aquele janeiro quente de 2019, que ficou marcado pela posse do atual presidente. “Mercedes, tu és tão jovem mas escreve como se já tivesse vivido cem anos. Gostaria muito de conhecê-la!”

Depois deste comentário Mercedes imaginou que só podia ser coisa do destino. Um homem há quilômetros de distância, de nome Gabriel, vir falar em cem anos de solidão. Muito mística e serena, praticante de ioga, ela não teve dúvidas de que tudo aquilo era um sinal. Embora não fosse fã de romances sentimentais seu príncipe encantado estava chegando, e não era em um cavalo branco, mas de uniforme branco. Logo depois dos primeiros contatos pela internet ela logo descobriria que ele era médico. Podia parecer piegas mas Mercedes chamou seu futuro marido, desde o início, de meu anjo Gabriel.

Foi assim que durante estes meses de tantas mudanças no país o casal enamorado trocou mensagens pelo celular e pelas redes sociais. No início de março de 2020, o anjo Gabriel marcou o dia para conhecer Mercedes pessoalmente. Ele embarcaria, no final de abril, partindo da capital paulista para encontrar em Porto Alegre a sua gauchinha. Aqueles 1136 quilômetros que os separavam, finalmente, seriam dissipados em poucas horas de voo, do aeroporto de Guarulhos ao Salgado Filho. Ele não via a hora de beijá-la, tocá-la, abraçá-la, contar e ouvir coisas sobre a vida de cada um, e é claro pedir para que a musa poeta recitasse um verso ao seu ouvido.

Mas eis que surge a pandemia do novo corona vírus. A covid 19 se alastra implacavelmente pelo mundo relembrando um passado distante da gripe espanhola, e mais distante ainda dos tempos do cólera no século XIX, ou da peste negra na Idade Média. Pensou ele, que estudava muito sobre o tema. “Por que será que a cada século a humanidade é assolada por algum tipo de pandemia?” Em março o Brasil, assim como o resto do planeta, praticamente parou. Gabriel, apesar de ainda jovem, tem muita experiência em epidemias pois já havia trabalhado no surto do H1 N1, em 2009, logo que se formou, e mais recentemente no tratamento de pacientes com dengue e malária. 

Em virtude de seu conhecimento a direção do hospital onde atua solicitou para que Gabriel se prontificasse a oferecer seus serviços em Manaus, pois a capital amazonense estava vivendo um momento crítico, com déficit de profissionais, que como vem ocorrendo em todo o país também estão sendo acometidos pela doença. Gabriel não pensou duas vezes, fez as malas, cancelou o voo para Porto Alegre, e logo que chegou ao Amazonas, enviou uma mensagem para Mercedes dizendo: “Te amo muito, mas em tempos de corona vírus nosso amor vai ter que esperar mais um pouquinho. Fica com Deus minha gauchinha. Logo estaremos juntos!

Mercedes acostumada com as idas e vindas dos romances de Gabriel García Márquez, aceitou a decisão de seu anjo paulista, e então postou. “Também te amo! A ciência logo encontrará a cura para esta pandemia, as máscaras da intolerância estão caindo, e as vacinas já estão a caminho. Mas por favor não deixe que nosso romance se pareça com a história do amor de Florentino por Fermina, que escreveram cartas durante meio século, e só ficaram juntos na velhice. Não tenho vocação para ser a Deusa Coroada do romance “O amor nos tempos do cólera”.

Na verdade ela estava mais para Mercedes Barcha, sua tocaia, a eterna musa de Gabo – apelido carinhoso de Gabriel García Márquez – com quem esteve casada por longos 56 anos. A viúva do seu escritor preferido havia morrido recentemente, em agosto de 2020, aos 87 anos, e sofria de problemas respiratórios. Será que foi o corona vírus? Então, Mercedes, a do Dr. Gabriel, suspirou fundo e de um único fôlego, como se alguém lhe ditasse os versos, concluiu sua postagem com o poema “Amor pandêmico”, que terminava assim: “Meu coração corre acelerado / Por corredores de hospitais / E bate forte me levando ao céu / Em busca de um amor maior / Meu eterno anjo Gabriel!

Clic Humor com Sabedoria: “O problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs antes do café.” (Gabriel García Márquez)


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