Mudança no atendimento em Saúde Mental é debatida em São Lourenço do Sul
No segundo dia da 10ª edição do Mental Tchê, nesta quinta-feira (24), em São Lourenço do Sul, usuários dos serviços, trabalhadores da rede, acadêmicos e gestores debateram os impactos do remodelamento do cuidado em Saúde Mental. O evento, que segue até sexta-feira (25), é referência no tema da reforma psiquiátrica brasileira, lei que determinou a substituição dos manicômios por serviços desinstitucionalizados, humanizados e em liberdade em atendimento às pessoas que possuem algum sofrimento psíquico.
Uma plenária, com o tema “Dez anos de Mental Tchê: Percursos de vida na Reforma Psiquiátrica”, reuniu relatos de pessoas diretamente envolvidas nas mudanças do modelo, seja por utilizar ou trabalhar nos serviços e na gestão. A secretária de Estado da Saúde, Sandra Fagundes, destacou que o Rio Grande do Sul vive um momento importante em consequência do compromisso do Estado com uma política de Saúde Mental que prioriza a organização do atendimento em rede e em liberdade.
“Enquanto política pública, mas especialmente como movimento social de Saúde Mental, que envolve usuários, familiares, trabalhadores, estudantes e comunidade, nós estamos abrindo a agenda do Estado”, afirmou Sandra. O psiquiatra Flávio Resmini, que atua na rede de São Lourenço do Sul, frisou a importância da formação profissional dos trabalhadores da Saúde ser realizada fora dos manicômios. As residências multiprofissionais e de psiquiatria estão se espalhando pelo Estado e se focando nas redes de atenção desinstitucionalizada que estão se fortalecendo?, lembrou.
Para a diretora do Departamento de Ações em Saúde da SES, Károl Cabral, a Saúde Mental é transversal. Károl alerta que o cuidado pode ser perigoso, se exercido com autoritarismo, em desrespeito à autonomia das pessoas. “Cuidar em liberdade é respeitar a existência e autonomia do outro”.
Depoimento
Os depoimentos de usuários de diversos serviços, como CAPS, redução de danos e oficinas terapêuticas, demonstram que a reforma psiquiatra já impacta positivamente na vida de quem precisa acessar cuidado e tratamento em Saúde Mental.
Heloísa Baracy, de Porto Alegre, contou que desde sua alta do Hospital Psiquiátrico São Pedro e o acompanhamento por outros serviços já conquistou um emprego e a possibilidade de morar em sua casa novamente. “Espero que pessoas com problemas parecidos com os meus também possam morar nas suas casas”, disse.
Após não se adaptar à internação hospitalar e à experiência em comunidade terapêutica para tratar de sua dependência, Maicon Alcântara, de Pelotas, encontrou no método da redução de danos um aliado para se reorganizar. Acompanhado por um CAPS em São Lourenço do Sul, Laércio Nebel relatou que hoje faz cursos de inglês e técnico horticultor e pensa até em faculdade. “Estou bastante feliz de estar me reintegrando à sociedade novamente e de forma equilibrada”.