“Hoje, o que salva vidas de pacientes graves é a UTI”, afirma médico pneumologista
Dr. Marcelo Mallmann, especialista em pneumologia, defendeu a importância da adoção e da propagação de métodos com comprovação científica
Na manhã desta segunda-feira, 15 de março, o programa Bom Dia Camaquã recebeu o Dr. Marcelo Mallmann, médico especialista em pneumologia e tisiologia, para falar sobre tratamentos alternativos em relação à Covid-19. O especialista defendeu que todas suas decisões são tomadas com base no que as sociedades médicas indicam em comum acordo.
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“Tudo que me norteia dentro do meu consultório médico, ou dentro do Hospital, é baseado no que as sociedades médicas nos oferecem: no que a ciência comprovou”
Ainda de acordo com Marcelo, o mais importante desta discussão é a adoção dos principais “guidelines” (em português: diretrizes) científicos, que funcionam como um consenso entre médicos e entre autoridades capazes de representar seus pacientes.
Durante a entrevista, o pneumologista falou sobre os principais efeitos, indicações e contraindicações dos medicamentos cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina. Segundo ele, todos não possuem base para a utilização no tratamento da doença e não são recomendados dentro das diretrizes científicas.
Ele também falou do uso da hidroxicloroquina em nebulização, tema que gerou grande polêmica nas redes sociais locais durante os últimos dias. Segundo o especialista em doenças pulmonares, não há absolutamente nenhum trabalho científico publicado em qualquer uma das principais revistas da Europa ou do Mundo.
Ele destacou que por mais que um ou dois pacientes apresentem melhora com um dos tratamentos acima, não é indicado realizar este tipo de experimento sem um amparo científico, já que não se teria noção dos possíveis efeitos colaterais a médio e longo prazo. “Não há absolutamente nenhum trabalho científico publicado em qualquer revista que diga que nebulização com cloroquina faça efeito”, defendeu. Segundo ele, tudo que for dito nesta área é especulação.
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Durante sua fala, Marcelo defendeu a luta em conjunto contra a propagação do vírus, com o uso do álcool gel, o respeito ao distanciamento social e o uso da máscara. Segundo ele, a diminuição do número de infectados é a principal medida para salvar vidas. “Hoje, o que salva vidas de pacientes graves é a UTI”, defendeu.
Marcelo também trouxe um importante relato sobre as últimas semanas no Hospital Nossa Senhora Aparecida (HNSA). Segundo ele, o última semana teve uma ‘explosão’ de internações, com um novo paciente chega a cada 40 minutos: “Não tínhamos um sorriso ou qualquer traço de demonstração de alegria nos corredores do Hospital”.
Acompanhe a entrevista, disponível no YouTube e Facebook do Clic Camaquã:
A participação do dr. Marcelo ocorreu logo após o comentário do Dr. Horta Barbosa, que trouxe outro viés sobre o mesmo assunto (assista acima).
O principal estudo sobre usa de Hidroxicloroquina/Cloroquina
O Estudo Solidariedade coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) foi realizado em conjunto entre as principais nações do Mundo, envolvendo quase 13 mil pacientes em 500 hospitais de 30 países. É o maior estudo de controle randomizado do mundo sobre terapias para Covid-19, que apresentou resultados sobre todos os tratamentos usuais e alternativos contra a doença descobertos até então.
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Os dados e os resultados recentemente anunciados mostraram que a hidroxicloroquina não resulta na redução da mortalidade de pacientes com COVID-19 hospitalizados, quando comparados com o padrão de atendimento. Ou seja: a mortalidade de pacientes que utilizam ou não este medicamento é praticamente o mesmo.
Os resultados preliminares coletados ao longo de seis meses indicaram que os medicamentos remdesivir, hidroxicloroquina, lopinavir/ritonavir e interferon têm pouco ou nenhum efeito na prevenção de mortes por Covid-19 ou na redução de tempo que a pessoa passa hospitalizada. O resultado foi corroborado pelos estudos realizados em todas as principais universidades e instituições de saúde do mundo.
Foram analisados os efeitos desses tratamentos na mortalidade em geral, início da ventilação e duração da permanência hospitalar em pacientes hospitalizados. Os resultados do estudo estão sob revisão para publicação e foram disponibilizados no medRxiv: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.15.20209817v1
Em relação ao uso de cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento e profilaxia contra COVID-19, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a OMS defendem que todo país é soberano para decidir sobre seus protocolos clínicos de uso de medicamentos. Embora a hidroxicloroquina e a cloroquina sejam produtos licenciados para o tratamento de outras doenças – respectivamente, doenças autoimunes e malária –, não há evidência científica de que esses medicamentos sejam eficazes e seguros no tratamento da COVID-19.
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As evidências disponíveis sobre benefícios do uso de cloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes. A maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento. Por isso, enquanto não haja evidências científicas de melhor qualidade sobre a eficácia e segurança desses medicamentos, a OPAS recomenda que eles sejam usados apenas no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis.
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