Imigrantes e refugiados enfrentam frio, falta de roupa e dinheiro no RS
De acordo com a Polícia Federal, existe cerca de 90 mil imigrantes registrados no estado; nos últimos três anos a maioria são haitianos
Chegar em um lugar novo, com outra língua, cultura e clima é sempre difícil. O Sul do Brasil, conhecido pelas temperaturas baixas registradas no inverno, é também rota dos recém chegados no país, o que pode provocar dificuldades extras.
“Nós, que estamos acostumados com o clima frio, fica mais fácil suportar o frio, mas imagina um haitiano e um venezuelano que vêm de um clima tropical e chega aqui no Rio Grande do Sul com esse frio, ele sente muito mais o frio do que nós”, afirma Anderson Hammes, diretor da Centro Ítalo Brasileiro de Assistência e Instruções às Migrações (Cibai) que tem sede em Porto Alegre, mas atende demandas de todo o estado.
De acordo com a Polícia Federal, são cerca de 90 mil imigrantes registrados no estado, sendo que nos últimos três anos esse fluxo é representando na sua maioria por haitianos (30%), uruguaios (25%), e venezuelanos (19%).
“Vim da Venezuela buscando uma melhoria, porque lamentavelmente, no meu país, a situação está bastante difícil. Tenho dois filhos, mais uma minha filha que já vivia aqui”, conta Morela Moreno, 46 anos.
Ela é uma das novas moradoras de Porto Alegre, depois de cruzar a fronteira da Venezuela com o Brasil. “Minha filha me preveniu de que viria durante o inverno. Saí do estado Bolivar, e lá faz calor. Mas eu disse que não importava, eu me adapto.” Ela chegou à capital do RS no dia 21 de abril deste ano.
“A demanda no inverno aumenta muito em relação a abrigos, cobertores, alimentação e aluguel. No verão é muito mais fácil”, afirma o diretor da Cibai. Lucas do Nascimento, coordenador do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) na região Sul, destaca que, apesar de não haver levantamento específico, “migrantes em situação de rua é uma demanda recorrente”.
A empregabilidade é citada pelos dois coordenadores como principal objetivo para a integração dos migrantes. Para conseguir vaga, o recém chegado, precisa estar com a documentação regularizada, ter fluência em língua portuguesa, além de outras questões que possam surgir.
A dificuldade é vivida por Morela, que, por ainda não dominar o idioma, não conseguiu um posto de trabalho. “O que me dá pena é que não falo o idioma”, lamenta.
De acordo com o coordenador da Unidade dos Povos Indígenas, Imigrantes, Refugiados e Direitos Difusos da Prefeitura de Porto Alegre, Mário Fuentes, o Sine Municipal atende às quintas-feiras imigrantes residentes na cidade que buscam inserção no mercado de trabalho.
“A gente quer integrar essa pessoa na sociedade e na comunidade que acolhe o imigrante. Não é fácil incluir essa pessoa em todas as dimensões, em todas as áreas como saúde, educação”, afirma Hammes. O grupo realizou 40.391 atendimentos em 2021, com 942 pessoas colocadas no mercado de trabalho. “Aumentou o nosso serviço no período da pandemia.”
Já a SMJR contabilizou 3 mil atendimento em 2021, e confirme Nascimento, a demanda aumentou em 2022. O serviço desenvolve atividades com a comunidade migrantes em diferentes cidades. Duas campanhas importantes são a Portas Abertas, como foco em conectar migrantes e oportunidades, com eventos como o Café com Empresas; e o Inverno Solidário, que arrecada doações de agasalhos e cobertores que serão repassados para as famílias estrangeiras.
Além da sede, na Avenida Venâncio Aires, 1.048, há outros dois pontos de coleta de roupas na mesma rua: Mercado Latitude, no número 1.020; e a Moinhos Fitness, no 77.
Conforme Fuentes, parte dos itens arrecadados na Campanha do Agasalho em Porto Alegre são destinados a 20 organizações ligadas a estrangeiros anualmente. A Cibai também recebe doações de cestas básicas e agasalhos. A sede da organização fica na Rua Dr. Barros Cassal, 220, Floresta.
Com informações: G1 RS