Reitor da UFPel afirmar estar chegando perto do caos financeiro
Instituição afirma que entrará o mês de outubro sem verba para pagar nenhuma das despesas de setembro - nem a conta de luz
“Daqui a dez dias chegará o caos que se anunciava em maio, quando o governo fez os cortes no Orçamento.” O desabafo é do reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Curi Hallal. O clima é de apreensão. Com menos R$ 22 milhões de custeio e R$ 7 milhões para investimentos à disposição, não há mais recursos para pagamento de contas. As pendências só se acumulam. E o pior: sem a liberação de verbas que o Ministério da Educação (MEC) promete a todo momento que irá fazer, mas não concretiza, até as bolsas acadêmicas de ensino, pesquisa e extensão ficam ameaçadas.
A estimativa é que aproximadamente 500 alunos não recebam os valores referentes a setembro, que deveriam ser pagos até o terceiro dia útil de outubro. “Não temos dinheiro para mais nada”, resume o reitor. Água, energia elétrica, celular. Todas as contas ficarão em aberto. As oito empresas terceirizadas, responsáveis pelos serviços de limpeza, vigilância, serviços gerais, portaria, motorista, bioterista, operador de barragem e tratadores de animais, já não receberam em agosto. Cláusula prevista nos contratos, entretanto, protegem os 593 trabalhadores, que devem permanecer com os salários em dia ainda que o pagamento deixe de ser feito por três meses.
O maior risco, a partir de agora, é quanto à manutenção das bolsas de assistência estudantil; desde o início da crise priorizadas pela gestão da UFPel. Ainda assim, só estão asseguradas até o final de outubro. Depois, se o desbloqueio de recursos não ocorrer, aproximadamente quatro mil estudantes podem perder benefícios que variam entre moradia, alimentação e transporte.
Nos próximos dias, o Conselho Universitário (Consun) deve ser convocado à nova reunião, para decidir medidas a serem adotadas, já que afora o cancelamento de atividades que dependem de deslocamento, várias aulas práticas também têm sido prejudicadas pela falta de materiais. A data do encontro ainda não está definida. Entre segunda e quarta-feira, Pedro Hallal aproveitará viagem a Brasília para colocar as dificuldades financeiras no centro da pauta.
Foto: Carlos Queiroz / Diário Popular
No Nurfs, apenas casos de emergência são recebidos
O alerta já foi repassado aos órgãos ambientais: o atendimento do Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre (Nurfs) está restrito a casos de emergência. Com estoque de ração, de medicamentos e de insumos hospitalares assegurado apenas até novembro, a equipe só poderá receber animais vítimas de situações mais graves, como maus-tratos. Apreensões rotineiras não poderão ser acolhidas.
Neste momento, cerca de 90 animais estão sob os cuidados do Nurfs, no Campus Capão do Leão. O normal para época de primavera – e o grande número de filhotes – seria estar com, pelo menos, 150. “Não podemos correr o risco de acolhê-los e não ter como dar conta do tratamento, até que estejam em condições de ser soltos”, destaca o diretor do Instituto de Biologia, Luiz Fernando Minello.
Nos próximos dias, o professor deve ter em mãos relatório que irá indicar até quando os cinco departamentos do Instituto, além de Nurfs, Horto Botânico, Museu Carlos Ritter e Herbário Pel, conseguem manter as atividades práticas. Informações preliminares, entretanto, apontam que as aulas de Ecologia, Zoologia e Genética estão prejudicadas, já que desde a metade de setembro todas as saídas de campo foram canceladas, pois dependem de viagens e de diárias para os acadêmicos ganharem a possibilidade de analisar o sistema costeiro e litorâneo – ressalta Minello e lamenta os prejuízos ao ensino.
Medidas paliativas apenas para ganhar tempo
Está em memorando assinado pela Reitoria: aparelhos de ar-condicionado devem permanecer desligados. Iluminação natural deve ser priorizada. O uso da frota institucional também precisa ser racionado. São apenas exemplos das orientações que correm as Unidades da UFPel para tentar ganhar tempo. As medidas, todavia, passam longe da solução.
“São paliativos pra que a gente não tenha que colocar o cadeado na porta tão rápido”, destaca o reitor. E reforça: mesmo com a crise em alta, a UFPel irá enfrentá-la de portas abertas. Na próxima semana, com paralisações da educação federal de ensino em todo o país, deve crescer a pressão para o MEC liberar ao menos parte das verbas que já estavam previstas no Orçamento de 2019.
