Cristiano Kuaray, filho de João, o cacique da aldeia, explica que “índio” não é a melhor forma de denomina-los, pois a palavra também significa “povo sem espírito, sem alma”. Eles pedem, então, que sejam chamados de indígenas. Segundo ele, no Brasil existem mais de 300 etnias indígenas com culturas e idiomas diferentes. O idioma que eles se comunicam é o Mbyá Guarani, ensinado desde os primeiros anos para as crianças.
A rotina na aldeia consiste na preservação da natureza e produção de alimento. Cada família tem a sua horta. Cristiano afirma que a aldeia não recebe nenhum valor do governo além do “bolsa família”. O artesanato é a principal fonte de sustento. Ilza Yva, de 25 anos, é uma das responsáveis pela arte. Ela fala pouco o português, mas explicou que os colares e as pulseiras feitas de miçangas fazem parte também da vestimenta das Guaranis, evidenciando sua cultura.
Para as crianças, a aldeia possui uma escola com dois professores indígenas e uma professora não indígena, onde são ensinados primeiramente pela língua Mbya Guarani e posteriormente aprendendo o português.
O preconceito na cidade ainda existe, segundo Kuaray, além de ataques nas redes sociais. “Algumas pessoas se incomodam com a gente lá. Eu costumo dizer que não é o índio que está na cidade, a cidade que veio até o índio. Fazem piada que somos índios modernos, só estamos vivendo de acordo com o presente, igual a todos. Não fazemos maldade, nem piada, nós respeitamos vocês e queremos o mesmo” declara.
O ano novo deles é comemorado em novembro, quando nascem as plantações. Nesta época fazem um evento aberto ao público, com trilhas, palestras, música, exposição de artesanatos e rezas. A crença é no Deus “Nhanderú”, cultuado através de uma reza que acontece semanalmente, quando os indígenas se reúnem em volta da fogueira. Para eles, a força da natureza é a responsável pela paz. Nhanderú é o criador de tudo e seu espirito é quem cuida. Não-indígenas também são aceitos nas rezas.
Nos últimos dias, a aldeia vem sofrendo invasões, roubos e vandalismo. Segundo eles, não é a primeira vez. Homens entraram durante a madrugada, alimentos já foram roubados e até animais machucados. Agora os guerreiros, como são chamados, se revezam em passar as noites em claro para vigiar o local. Apesar do medo, eles não pretendem bloquear a estrada. “Nosso principal objetivo é proteger uns aos outros”.