“Camaquã não tem estrutura para um grau de autista severo”, afirma mãe assistida pela AAADAC
Preconceito e inclusão foram abordados durante o programa Manhã Show da ClicRádio; confira relato de uma mãe que tem duas crianças autistas
O programa Manhã Show da ClicRádio recebeu convidadas especiais, para falar sobre um assunto bem delicado e que precisa ser conhecido por toda a sociedade, a inclusão. A presidente da Associação dos Amigos Autistas e Deficientes Auditivos de Camaquã (AAADAC), Cintia Souza, a representante administrativa Andriely Souza e a mãe de duas crianças assistidas pela organização participaram do programa nesta quinta-feira (28).
“A associação para mim foi como uma luz no fim do túnel. Naquele momento em que tu olha para os lados e percebe que não tem saída e que ninguém consegue te entender, foi onde eu descobri a AAADAC”, comentou Kelen Meyer, mãe de duas meninas, de 11 e 6 anos de idade, uma delas tem autismo leve e a outra tem autismo severo.
Kelen relatou algumas situações que vivenciou ao lado da filha que tem autismo severo. Ele contou que passou por outras organizações e em determinados momentos, talvez naqueles em que ela mais precisava, os atendimentos eram interrompidos.
Segundo ela, quando a filha tinha crises sérias e ficava muito agitada e agressiva, ela costumava ouvir a frase: “mãe temos que parar”. “Lá na AAADAC não é assim”, explicou que quando a menina tem episódios de crise é amparada pela organização.
“Como mãe, pelos profissionais que passei, Camaquã não tem estrutura para um grau de autista severo. Eles não compreendem a situação”, afirmou. Kelen comentou que consegue ver avanços no comportamento da filha depois que ela passou a ser atendida pela associação.
Cintia explicou sobre a importância das pessoas entenderem a diferença entre os graus de autismo. Ela ressaltou que o grau severo apresenta uma dificuldade maior em relação a adaptação e socialização. “Cada caso é um caso”, evidenciou a singularidade nos tratamentos mesmo entre crianças com mesmo grau de autismo.
Kelen divulgou situações em que a filha e ela foram vítimas de preconceito na cidade. A mãe relatou que já ouviu diversos comentários infelizes sobre a filha. “Ela não tem noção do que está fazendo, a maneira que ela expressa seus sentimentos é gritando e se batendo”, explicou. “Ouvi que ela era uma criança louca, retardada, que eu precisava procurar um psiquiatra”, expôs.
“Quem tem uma criança a esse ponto sabe o que passa no dia a dia, quem está de fora não tem noção”, afirmou. Ela revelou situações que vive entre a própria família, como não ser convidada para eventos familiares por “causa” da filha.
“As vezes eu digo para a minha mãe e para o meu pai que não pedi para a filha nascer assim, se deus me deu, é como diz aquela frase, Deus não escolhe os capacitados, ele capacita os escolhidos”, comentou. Ele contou que algumas vezes sentiu vontade de desistir, por falta de apoio dentro do núcleo familiar.