Estiagem e Seca
Esses são dois fenômenos climáticos ligados a frequência e intensidade das chuvas, não são rigorosamente a mesma coisa. Estiagem é quando permanece um tempo sem precipitações, mas que não necessariamente provocam seca. A seca acontece num período de estiagem maior que coincide com o déficit de água no solo. Enquanto o lençol freático estiver com água, a falta de chuva não causa prejuízos as plantas porque o solo possui características físicas com a sua capilaridade, capaz de trazer água ás plantas. Então, uma estiagem encontrando o balanço hídrico do solo equilibrado, causam menos prejuízos para as lavouras.
Com isso chegamos à conclusão, que a infiltração das chuvas no solo, não só é importante para abastecer o lençol freático, como também manter os aquíferos (águas profundas do solo). Fica a questão da frequência cada vez maior das secas e, pior, elas acontecem cada vez com maior prejuízo para as lavouras, isso aponta para a quebra do ciclo da água, isto é, a infiltração no solo será profundamente prejudicada.
Aconteceram ao longo dos últimos tempos coisas importantes: a baixa dramática de fluxo nos cursos de água quando acontece as estiagens e quando chove com intensidade a rapidez como transbordam esses mesmos cursos, prova que a água não infiltra nas cabeceiras. Lembramos que a capacidade de armazenamento no solo é muitas vezes superior à água existente na superfície, então estamos muito preocupados em armazenar a água na superfície e dispensamos esse potencial de retenção na bacia hidrográfica pela infiltração para a recarga das reservas do solo e subsolo.
Na busca das razões dessa situação observa-se a primeira causa, ou seja, no início da colonização a cobertura florestal do Rio Grande do Sul era maior que 40% e hoje está em torno de 5% de mata original, isso remete ao seguinte raciocínio, será que esse desmatamento seguiu algum critério? Certamente que não, na época não se tinha esse conhecimento, então o corte raso atingiu as áreas de recargas de água do solo, isto porque as árvores são as grandes retentoras das chuvas e elas em conjunto, criam condições de infiltração no solo. E mais, logo a seguir ao desmatamento veio a utilização dessas áreas desbravadas, será que se obedeceu a capacidade de uso do solo? Certamente não, o uso também foi indiscriminado e, pior, continua até hoje processos de utilização fora da capacidade de uso em muitas regiões, a isso, soma-se em vastas áreas o manejo inadequado das encostas.
Do desmatamento indiscriminado herdamos a falta de retenção da água nas cabeceiras e do mau manejo herdamos a compactação do solo. Com isso as chuvas não encontram nenhuma dificuldade de escorrimento que somado a baixa infiltração, dá origem a irregularidade dos cursos de águas. Quando chove temos as cheias, quando acontecem estiagens temos secas graves e os nossos cursos de águas ficam tipo “sanfona”, pior, suas calhas se enchem de sedimento. O visual mostra essa situação claramente.
A situação no Estado tende a transformar os nossos rios em arroios, os arroios em sangas e as sangas ficam intermitentes e a maioria das nascentes secam em períodos cada vez maiores. A pergunta que não quer calar, até onde teremos que chegar, para que providências sejam tomadas a fim de acautelar essa situação?
Teremos solução para a situação criada? Na minha experiência de ter trabalhado 30 anos com assistência na Conservação do Solo, pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, tenho convicção que sim, mas certamente não será guardando águas da chuva em grandes reservatórios, que atendam somente a jusante, nem utilizando apenas uma prática conservacionista. Ela passa por um planejamento conservacionista que inclua a revitalização das áreas de recargas, proteção das vertentes e dos mananciais. Isso vamos comentar no próximo texto, por enquanto analisem e tirem suas conclusões, porque a situação requer isso.