As Gerações Passam; a Terra Permanece
Leia a coluna de Nelson Egon Geiger, advogado e comentarista de toda quarta-feira no programa Bom Dia Camaquã, transmitido através da Clic Rádio.
“Salomão pediu a Deus que lhe desse sabedoria; não riqueza e nem poder. Todavia tivesse todos eles durante sua vida. No livro do Eclesiastes falou das gerações e dos homens; da Terra; dos tempos; dos rios que correm para o mar e das vaidades levadas pelo vento”.
Segundo o Eclesiastes “Geração vai e geração vem, mas a Terra permanece para sempre” (Ec 1.4) e segue: “Levanta-se o sol e se põe o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo” (Ec 1.7). E mais importante: “Todos os rios correm para o mar e o mar não se enche” (Ec 1.9).
O escritor norte-americano Tomas Wolfe disse que era a maior obra singular de literatura que ele conhecera e a sabedoria expressada nele a mais duradora e profunda. Para a esmagadora maioria dos teólogos e para o judaísmo o livro foi escrito pelo Rei Salomão. Os que questionam diferenças de datas, porquanto notícias da obra remontam a 180 anos antes de Jesus. A outra referência antecede cerca de 450 anos antes de Cristo. Enquanto Salomão viveu mais de 800 anos antes de Jesus.
O que não impede o escrito tenha permanecido sem divulgação por séculos. É o mais correto. De qualquer forma o autor é bem claro e afirma no início: “Palavra do pregador, filho de Davi, Rei de Jerusalém”. Sabido que a Jerusalém de hoje e, até mesmo, do tempo de Jesus teve antes uma cidadela construída pelo Rei Davi, em local que a arqueologia recentemente identificou: dentro da atual Jerusalém.
O título “Eclesiastes” vem da tradução grega do termo hebraico Kohelet , que significa “aquele que reúne”, mas que é tradicionalmente traduzido como “pregador” nas traduções da Bíblia em português, o pseudônimo utilizado pelo autor do livro.
Teria sido escrito por Salomão quando já idoso; já tendo passado todos os atos importantes de sua vida enxergando as vaidades que cercam o homem: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade”. E analisando o tempo para afirmar que: “Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; … tempo de guerra e tempo de paz” (Ec 3.1, 8).
Lamentavelmente se agora houve tempo de enchente, por certo haverá tempo de ela se retirar. Sair; ceder; deixar o solo secar.
Haverá trabalho evidente. Houve e ainda aparecerão perdas, danos, sofrimentos. Até morte. Mas Porto Alegre permanecerá. Mesmo que exista no futuro tempo de destruição atômica, nuclear, o planeta vai permanecer. Ainda que sem vida.
Chega de tragédias, mas elas acontecem. Tanto por causas naturais, como por falha humana e, outras tantas, pela insensatez dos homens. Homens aqui no sentido genérico: homens e mulheres; a humanidade.
O que se aprendeu nesse tempo é que a história se repete. Até mesmo a história das intempéries. Tanto que a enchente de 1941 se repetiu 83 anos depois. Agora com mais destruição porquanto há mais gente. Mais população; melhores e maiores construções.
É hora de reconstrução, de re-erguimento, de ajuda às vítimas e de limpeza e até de cuidados para que não ocorram outras calamidades iguais sem que estejamos mais aparelhados.
O Eclesiastes teve uma profunda influência na literatura ocidental. O citado Tomas Wolfe afirmou, também, que: “eu diria que Eclesiastes é a maior obra singular de literatura que eu conheci e a sabedoria expressada nele é a mais duradoura e profunda”.
A destruição passou; agora é tempo de reconstrução..
EDIÇÃO de 20.05.2024.__.