Mamãe me ajude!!!
Mamãe me ajude!!!
Eu tinha uns 10 ou 11 anos. Minha escola ficava ao lado de uma distribuidora da Coca-Cola. Apenas um muro baixo com uma tela de arame de uns dois metros de altura separava o pátio de minha escola da movimentação dos caminhões e pequenos guindastes que circulavam o dia inteiro carregando engradados cheios de garrafas para distribuição pelos bares e supermercados de Pelotas e Região. Naquela manhã um motorista dos guindastes fazia algumas manobras imprudentes perto do muro e nós crianças ficávamos observando enquanto aquele senhor com um bigode grande brincava com aquele veículo. Mas entre uma curva e outra seguido de muitas risadas entre ele e os outros operários, algo assustador para mim que era apenas uma criança aconteceu. O pequeno guindaste virou e o motorista caiu de rosto no chão com o guindaste prensando a cabeça dele contra o piso de cimento. Foi a primeira vez na vida que presenciei um acidente tão violento. Além do sangue que escorria do bigode do infeliz enquanto seus colegas em desespero o puxavam e o erguiam de baixo da pesada máquina de metal, o que me deixou muito angustiado e surpreso foi ouvir aquele homem forte, um adulto, um pai de família talvez, chorando e chamando pela mãe. Ele chamava por sua mãe como se fosse um menino indefeso. Muitos anos depois eu soube que praticamente qualquer pessoa que se encontre num momento de desespero, pode chamar pela mãe. Passaram-se mais de 40 anos, mas nunca esqueci o pedido de socorro daquele homem. Quando estive no Vietnam em 2017, eu visitei um terrível campo de batalha utilizado pelos vietcongues na guerra com os americanos. Além de atravessar um dos milhares de buracos subterrâneas, conheci de perto as terríveis armadilhas construídas pelos vietnamitas. As armadilhas não eram feitas para matar imediatamente. A intenção dos vietcongues era que as armadilhas causassem, muita dor, morte muito lenta e efeitos psicológicos nos demais soldados tendo que ouvir os gritos e testemunhar o sofrimento dos companheiros imobilizados nestas arapucas do terror. As próprias minas terrestres eram arquitetadas para mutilar. Mutilando eles tiravam dois soldados de combate. O ferido e o que tinha que carregar o azarado. Hoje aquilo tudo virou coisa banal. Todo aquele cenário de desgraça virou diversão para turista matar a curiosidade e tirar sua selfies para postar com um sorriso nas redes sociais. Observando aquelas armadilhas eu fiquei imaginando com muita tristeza o choro e o lamento de centenas ou milhares de soldados que tiveram a má sorte de cair num daqueles buracos e ficar durante dias morrendo aos pouquinhos e chamando por suas mães. Estou com um canal no Youtube: O Expedicionário Mochileiro. Acesse e veja alguma das imagens que, assim como os outros turistas, também captei para me exibir para você me comportando também como mais um daqueles que banalizou a morte e a transformou em diversão para “Inglês ver” uma das inúmeras desgraças que somente a criação mais perfeita de Deus consegue fazer com maestria: A Guerra.