Inez Ramos Crespo uma precursora da poesia feminina na região
Os 30 anos do lançamento da obra lírica e inovadora “Título: Mulher”, da poeta e educadora Inez Ramos Crespo, é motivo de celebração neste 2020 de tantas inconsistências. O trabalho publicado pela Editora Alcance, em 1990, foi o primeiro livro lançado por uma mulher no município de Camaquã o que faz da autora uma precursora da poesia feminina na região.
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Antes, nas distantes décadas de 1930/40, a poeta camaquense Anna Patrícia Vieira Rodrigues César, publicara poemas esparsos em jornais e livretos, no Rio de Janeiro. Ana Cesar, que nasceu no ano da emancipação de Camaquã (1864), na estância Santa Rita, hoje localizada no município de Arambaré, foi uma das primeiras feministas do Brasil.
No entanto não se tem notícia de que ela tenha realizado algum lançamento literário em sua terra natal. Coube a Inez Crespo, meio século depois a primazia de ser a primeira mulher camaquense a publicar uma obra poética na cidade. O que revela o quanto é íngremea trajetória feminina em um ambiente conservador e patriarcal.
Inez nasceu em Camaquã na época dos anos dourados, em 1962, em uma família de cinco irmãos. É professora aposentada especialista em Matemática e em Supervisão Escolar, com Mestrado em “Políticas y Administración de la Educación” – UNTREF/Argentina. Ela foi presidente da Associação Amigos da Água Grande, ex-presidente e atual presidente eleita da Casa do Poeta Camaquense – CAPOCAM.
Além de “Título: Mulher” (1991), a poeta lançou outras duas obras individuais: “Rosa de Sal” – LICRS (2006) e “Meu filho TDAH e outros bichos” (2015). Entre as publicações em coletâneas destaque para: “E por falar em poesia” (1990), “Luz, Poesia, Ação” (1991), “A palavra descoberta” (1999), “Poesia pela Paz” (2004) e “Cidade da Poesia” (2019), todas editadas pela Capocam/Criarte. E ainda: “Eva e Liliths em poesia” (2005), “Bruxas e Fadas” (2007), “A poesia das Sete Mulheres” (2009), “Simplesmente Mulher” (2011), “Contos, crônicas e poesia” – UBE (2011).
A escritora enquanto educadora ministrou as oficinas e organizou a coletânea estudantil “Tecendo Poetas na Escola” (2013), participou da “Anseb em Revista” – edição nº 1 (2011), e também das edições da revista literária “Cidade da Poesia” (2008 a 2015). Ela atua em feiras e eventos literários como oficineira, e ao longo destes trinta anos integrou diferentes projetos culturais.
Inez Ramos Crespo: poeta, palestrante, mãe, avó, professora, mestra em educação, empreendedora. Mas acima de tudo uma mulher à frente de seu tempo trilhando os caminhos da literatura e da luta feminina, com a mesma intensidade que fez Ana César nos séculos XIX e XX. Duas figuras femininas, que mesclam o passado e o presente retratando a ascensão da mulher enfrentando as adversidades tão comuns nas pequenas cidades ao sul do Brasil. Diferente do trecho sobre a morte de Inês de Castro, na obra “Os Lusíadas”, do grande vate Luís de Camões… Inez está viva, e bem viva!
Patchwork
Nos cantos do afeto
retalhos de outono
Cosem fios em alinhavo.
Nos cortes florais
Repousam amores,
suores e
seios solares.
Pedaços de inverno
No xadrez enlutado
da rotina morna.
Listrados de ventos
Ressecam as lágrimas
Submersas.
O viés: rasgos
no porão da alma.