Eu amo meus filhos igual! Será mesmo?
Leia a coluna de Bianca Benemann, escrivã da Polícia Civil e apresentadora do programa Elas por Elas, transmitido toda quarta-feira através da Clic Rádio.
A verdade é que ninguém tem o mesmo pai e mesma mãe. Você pode ter cinco filhos e para cada um será uma mãe ou pai diferentes.
Não acredita? Faz o teste: senta com teus filhos e conversa sobre como cada um enxerga você nesse
papel parental e ficará constatado que a experiência e a impressão deles sobre ti será absolutamente distinta. Cada filho nasce de uma mãe e um pai diferentes, em momentos distintos e em contexto diverso. Não somos iguais a ontem e amanhã modificaremos também, em evolução ou involução. Nossos filhos se beneficiam ou se prejudicam diretamente desse transformar psíquico de seus pais.
Segundo Elisama Santos, especialista em saúde mental, é extremamente importante a consciência
de que somos diferentes para cada filho, pois, ao negar essa diferença, replicamos ela no trato com
eles, ferindo-os. Cada filho é um universo próprio e tem sua forma única de agir no mundo, por tal
razão não podemos tratá-los da mesma forma. Eu, por exemplo, tenho dois filhos. Se grito com um
deles, esse fica ressentido e por vezes chora; Já o outro, dá risada na minha cara.
Eu preciso ser diferente com eles, respeitar a especificidade de cada um. Quem tem mais de um
filho, sabe que um é mais desafiante, exige mais, irrita mais quando comparado ao outro com quem
temos mais afinidade. Se não percebemos essa diferença, se não trouxermos ela para consciência,
ficaremos sempre próximos ao filho que é mais fácil. É essa diferença que machuca, porque trato
diferente e falo que não estou tratando diferente. É um processo que exige coragem dos pais. Com o
filho que tenho mais dificuldade, terei que refletir quais são os pontos que temos em comum e,
partindo das afinidades, construir uma relação emocionalmente sadia. Nenhum filho merece uma
mãe ou pai que se irrite com tudo que ele fala ou faz.
Ainda segundo Elisama, quando a gente observa que se relaciona de forma diferente com cada filho
e que o difícil e o fácil é um julgamento que fala sobre a nossa personalidade – e não sobre a
personalidade da criança – a relação ganha uma clareza que vai moldar nossas condutas a partir daí. Todos nós sabemos quem era o filho preferido da mãe, mas ela nega até a morte dizendo que ama os filhos de maneira igual. Ao responder dessa forma, voltamos a machucar o filho que se sente preterido, quando seria emocionalmente mais libertador dizer que “tenho mais afinidade com o seu irmão”. Afinal, essa marca levamos para toda vida e ela volta sempre nos encontros de família, não é verdade?