Chico Diabo, o Camaquense que matou um Ditador Paraguaio
José Francisco Lacerda, conhecido como Chico Diabo, foi um militar famoso por ter matado o ditador paraguaio Francisco Solano López
Após grande repercussão das duas matérias sobre a história de Camaquã em alusão ao aniversário da cidade que acontece na próxima sexta-feira (19), hoje contaremos a história de um personagem pouco difundido em nossa cultura mas famoso entre militares e entusiastas do assunto.
José Francisco Lacerda, vulgo “Chico Diabo”, nasceu em Camaquã, Rio Grande do Sul, no ano de 1848 e morreu em Cerro Largo, RS, no ano de 1893. Foi um cabo do Exército Brasileiro que lutou na Guerra do Paraguai e ficou famoso por ter matado o ditador paraguaio Francisco Solano López, na batalha de Cerro Corá, ocorrida em 1º de março de 1870.
Chico nasceu numa família de poucos recursos e, ainda menino, empregou-se na carniçaria de propriedade de um italiano, em São Lourenço do Sul, município vizinho à Camaquã, sua terra natal. Nessa carniçaria fabricava produtos como charque, linguiça e salame.
Em 1863, quando contava apenas 15 anos, Chico descuidou-se da vigilância e um cão entrou no recinto onde estava guardada a carne, devorando alguns pedaços. Ao tomar conhecimento do ocorrido pelo próprio Chico, o italiano passou a agredi-lo.
O menino tomou de uma faca usada no seu trabalho e matou seu patrão. De imediato, fugiu a pé para a casa de seus pais, onde chegou na manhã do dia seguinte, portanto caminhando um dia e uma noite sem parar para descanso.
Ao ver um vulto, ao longe, a mãe de Chico exclamou: “Garanto que é aquele diabinho que vem vindo”. Por causa desta frase, ganhou o apelido de “Chico Diabo” que o acompanharia pelo resto da vida.
Com medo de lincharem o filho, a família o manda para viver com o tio em Bagé (e quem mora no Sul sabe que Bagé é um bom lugar para se mandar gente que não quer ser encontrada), e dois anos após isso, um destacamento dos “Voluntários da Pátria” passa pelo lugar e o Chico resolve ir junto logo sendo promovido a cabo.
e Zacarias Pacheco, o corneteiro.
O feito de Chico Diabo foi tema de ilustração
em revista publicada na época.
(Foto: Semana Illustrada, nº 485, 27/03/1870)
“Emparelha com ele (Solano Lopez) José Francisco Lacerda, cabo de ordens de Joca Tavares, mais conhecido como Chico Diabo, e logo atrás o clarim Zacarias Pacheco, sem tirar o metal da boca, tocando avançar-carga sem parar um instante. Era um entusiasta de seu instrumento musical de guerra, e talvez quisesse destacar sua utilidade neste momento decisivo… Chico Diabo estende a lança contra o Presidente, este a desvia com a espada. A velocidade e árvores no percurso perturbam-lhe a defesa.
O segundo lançaço, mais violento, não pôde ser esgrimido com a espada, mais curta e mais leve. Manejada com destreza, a arma terrível penetra-lhe abaixo do fígado, perfura suas entranhas, lá deixando, inexorável, os germens da morte. Solano López sente a dor precursora de seu fim! Firma-se no lombilho, apertando os joelhos contra o corpo do Mandiú para não ser derrubado, e dá uma estocada de espada no brasileiro como resposta e tamanha ousadia.
O aço puro, menos longo do que a firme haste da lança, não alcança seu algoz, e o golpe desperdiça-se no espaço. Aproxima-se a todo galope do Marechal acuado o capitão provisório João Pedro Nunes pela esquerda, de espada erguida. O Presidente do Paraguai poderia nessa hora entregar-se; achava-se gravemente ferido, merecia ser tratado imediatamente pelos médicos.
Repeliu a hipótese. Voltejando a espada dum lado para outro como que se resguardando de imprevisíveis golpes, perdendo sangue e urina através do atroz ferimento, ele é ainda o Marechal-Presidente do Paraguai soberano. Como um cavaleiro da Távola deposita sua fé em sua Excalibur. Sempre o mesmo clássico da guerra…”