Em política 2 mais 2 não somam 4
Leia a coluna de Nelson Egon Geiger, advogado e comentarista de toda quarta-feira no programa Bom Dia Camaquã, transmitido através da Clic Rádio.
“Como dizia o Cons. Gaspar Silveira Martins, idéias não são como metais que se fundem. Em política, em eleições, coligações têm de ter algo em comum; senão não soma. A área rural não vota na esquerda; e o esquerdismo abomina quem defende o capitalismo”.
Política não é ciência exata; em política 2 + 2 não é = 4. Erra quem pensar que juntando dois ou mais Partidos na disputa de uma eleição terá, no final, a soma dos votos dos partidos juntados. Ou coligados como se diz.
Não é assim que funciona. Porque os votos obtidos por um candidato em uma eleição virão dos votantes que têm diversas matizes. Diversas opiniões; diversas ideologias. Essas as mais importantes. E idéias “não são metais que se fundem”, como dizia o grande político gaúcho, Gaspar Silveira Martins.
Tanto que partidos de extremos não se coligam entre si. Impossível dar certo uma coligação de um partido esquerdista com um direitista; e vice-verso. Os partidos de centro, como PMDB e PSDB, que defendem idéias entre um extremo e outro, até mesmo se podem juntar. Ora com algum partido de esquerda; ora com de direita. Os extremistas não: direita só se acomoda com direita ou meio centro; e esquerda no máximo com o centro.
Porque o contrário não fecha; não mistura. Como se tentar colocar óleo em um balde com água. Não adianta nem mexer, pois, não se misturam os líquidos. Nas eleições que essa mistura se tentou grande parte dos filiados e simpatizantes de um partido não digere. Não acolhe. E culmina em não votar no candidato de seu partido face à errada mistura ideológica.
Vou ao exemplo direto. Na eleição de 1986, para Governadores, Senadores e Deputados Federais e Estaduais, era Presidente o último eleito pelo Colégio Eleitoral, José Sarney que, como Vice escolhido no “tapetão” substituiu Tancredo Neves que adoecera antes da posse.
Pois em nosso Estado fora lançado pelo PMDB o Senador e ex Ministro da Agricultura, Pedro Simon. Era considerado imbatível naquele ano. O Partido ia concorrer só e como vice Sinval Guazelli, também PMDB. Pois, bem fui ao meu comentário na Radio Camaquense.
O Luiz Renato Barbosa entrevistava o tradicional político camaqüense Oswaldo Hilleschiem. Este um grande amigo que pertencia, então, ao PDS, partido fundado em 1978, na seqüencia da antiga ARENA. Como o PMDB, também de 1978, vinha do antigo MDB.
O saudoso Oswaldo e eu éramos adversários; porem amigos. Cada um defendia sua idéia; sua grei partidária. Pois aqui no Estado o PDS resolveu se coligar com o PDT. Aquele, no passado mais remoto tinha ideais parecidas: PSD (antigo), UDN e PL. O PDT vinha do velho PTB. Idéias passadas antagônicas.
Oswaldo entrevistado pelo “Renatão” disse: “agora sim não tem perdida, vamos dar um banho de votos”. A coligação tinha pelo PDT Aldo Pinto e pelo PDS Silvérius Kirst; deputados federais de seus partidos.
Depois falei eu no programa. Ora não é assim; esse tipo de coligação não dá certo; não soma; a união será fraca; a maioria dos filiados não vai “engolir” e acaba não votando.
No final não deu outra: Simon que era o preferido ganhou mais fácil ainda. Sozinho o PMDB fez 2.009.381 (48,01%). Na prática quase somou os outros todos: a dita Coligação PDT e PDS fez 1.140.228 votos. O PFL com Carlos Chiarelli, 524.339; PT com Clovis Ilgenfritz 356.767 e Fúlvio Petraco do PSDB 254.599 (Soma 51,09%; todos os dados são da “Wikipédia”).
É isso aí; em política a soma nunca resulta exata. Não funciona assim. Quem viver verá.
EDIÇÃO de 27 de abril de 2024.___.