Campos Neto afirma que investidores precisam ter boa vontade com o Governo Lula
Presidente do Banco Central destaca que sua proximidade com o governo anterior não afeta autonomia da instituição
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, debateu nesta segunda-feira (13), sobre a relação com o governo federal, que passa por momentos de tensão, e afirmou que vai fazer o possível para se aproximar.
“O Banco Central precisa trabalhar junto com o governo, e que eu vou fazer tudo que estiver ao meu alcance pra aproximar o Banco Central do governo”, afirma o gestor.
Questionado se a sua proximidade com o governo anterior coloca a autonomia do BC em risco:
“Eu fiquei quatro anos num governo, e ao longo de quatro anos você acaba desenvolvendo relações, proximidade com algumas pessoas, não com todas, mas com algumas pessoas. Mas acho que a gente precisa diferenciar a proximidade com algumas pessoas de independência de atuação”, disse.
Segundo ele, é natural que não exista uma diminuição dos juros no início do governo. “Todos os primeiros anos de governo começaram com aumento de juros, com exceção de 2006, e basicamente o que o Banco Central fez na primeira reunião foi manter os juros que já vinham”, disse.
Questionado se há um risco fiscal que justifique a taxa de juros atual, que é de 13,75% ao ano, Campos Neto afirmou que não espera um corte de despesas estrutural do novo governo:
“Em relação ao fiscal, o que a gente observa nos últimos muito anos, é que você tem uma trajetória de gastos, que é uma trajetória difícil de ser interrompida. Quando a gente separa todas as rubricas de gastos e olha a trajetória, se você imaginar uma linha de tendência de alta, que é a média, e imaginar todas as vezes que teve um corte que foi abaixo da média, várias vezes esse corte não é sustentável, não é uma coisa que é estrutural, então volta”, disse.
“Não acho que é razoável esperar que o governo chegue e faça um mega ajuste de despesas, uma coisa que nunca foi feita. A gente, sim, tem que cuidar das despesas, a gente tem que entender que, no final das contas, crescimento é o que vai levar de fato a uma melhoria fiscal, mas existe sim uma fragilidade fiscal”, completou.
Campos Neto defendeu também uma melhor comunicação do governo com o mercado:
“Tenho conversado com o ministro Haddad, ele está super bem-intencionado. A gente precisa, em conjunto, achar uma forma de comunicar os agentes, que aqui não se trata de rentistas, os agentes econômicos que apostam no país, que a gente tem uma equação pra equilibrar a trajetória de dívidas na frente, eu acho que isso que é importante”, afirma.
Sobre o rombo fiscal das lojas Americanas, o gestor destaca que o caso não deve afetar estruturalmente a oferta de crédito no país:
“Quando eu pergunto pros bancos se isso afeta a disposição deles de dar crédito ao longo do ano, o que eu recebo como resposta é que afetou muito pouco, eles já estão cuidando desse tema, e que hoje a perspectiva de crescimento de crédito hoje é uma coisa entre 8% a 10%, que é um crescimento razoável pro momento que a gente está agora. A nossa política de juros tem um objetivo, a gente precisa desacelerar um pouco o crédito em algum momento, pra depois voltar a subir ele de forma mais sustentável”, disse.
Confira a participação do presidente do Banco Central no programa Roda Viva na TV Cultura.