Demora no atendimento da Delegacia da Mulher leva centenas de vítimas a desistirem de denunciar agressões, revela reportagem
Os dados constam em um processo administrativo interno (PROA), revelado pelo Grupo de Investigação (GDI) da RBS

A delegacia mulher da Capital do Rio Grande do Sul enfrenta um cenário crítico. Entre fevereiro e abril de 2025, ao menos 307 mulheres desistiram de registrar boletim de ocorrência na 1ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (1ª Deam), em Porto Alegre. O motivo é a longa espera por atendimento no plantão policial.
Os dados constam em um processo administrativo interno (PROA), revelado pelo Grupo de Investigação (GDI) da RBS. O documento, aberto em janeiro deste ano, escancara os gargalos estruturais da unidade, tanto na falta de agentes quanto na precariedade do espaço físico.
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Queda nos números não indica redução da violência
Embora os indicadores apontem queda nos registros de ocorrências em 2025, o relatório alerta: os números não refletem uma diminuição real da violência. Ao contrário, evidenciam a dificuldade enfrentada por vítimas ao buscar ajuda.
Segundo o relatório, o número de policiais no plantão caiu de 25 para 21. Além disso, houve redução de 4,58% nas ocorrências registradas, 11,82% nas prisões em flagrante e 8,62% nos pedidos de medidas protetivas.
“O plantão conta com apenas uma cela individual, o que é insuficiente diante da quantidade de flagrantes. A situação se agrava com a baixa frequência de remoção de presos, pela CORE, que realiza transporte apenas duas vezes ao dia. Essa realidade sobrecarrega ainda mais os plantonistas, que não conseguem suprir simultaneamente as demandas de custódia e registro de ocorrências”, destaca trecho do documento.
Essa limitação, conforme mostra a reportagem, compromete a rotina da delegacia mulher. Os plantonistas, sobrecarregados, não conseguem atender simultaneamente às demandas de custódia e registro de ocorrências.
Problemas persistem e reforço ainda não chegou
Há um ano, o mesmo problema foi tema de reportagem. Em janeiro, a direção da Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam) voltou a solicitar reforço no efetivo. O pedido destaca a necessidade mínima de oito policiais por plantão. No entanto, a chefia da Polícia Civil alegou falta de efetivo e disponibilizou apenas cinco agentes por turno.
Apesar dessa limitação, a Polícia Civil anunciou recentemente a criação de três novos departamentos. A decisão gerou críticas, já que não foi mencionado déficit de pessoal para essas estruturas.
Mesmo com o arquivamento inicial do processo administrativo, a direção da Dipam manteve o pedido ativo. A solicitação foi reenviada para reavaliação, mas até o momento não houve resposta oficial.
Secretaria da Segurança Pública cobra explicações
Na terça-feira (29), após nova reportagem do GDI, a Secretaria da Segurança Pública determinou que a chefia da Polícia Civil investigue a demora no atendimento da delegacia mulher.
Em 2024, conforme destaca a matéria, o próprio secretário da Segurança, Sandro Caron, havia prometido reforçar o plantão da 1ª Deam para garantir atendimento de qualidade. Um ano depois, o compromisso segue pendente.
A equipe de reportagem do GDI ainda não havia recebido um retorno oficial da direção do Departamento de Proteção a Pessoas Vulneráveis sobre as medidas que serão tomadas diante da situação até a publicação desta matéria.
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