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19 de maio de 2025
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Medida protetiva pode ser feita online no RS

Nova ferramenta busca frear violência contra mulheres. Violência doméstica em alta pressiona autoridades a facilitarem acesso à proteção


Por Eduardo Costa Publicado 20/04/2025
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Medida protetiva pode ser feita online no RS
Medida protetiva pode ser feita online no RS

Após um dia marcado por seis feminicídios em diferentes cidades do Rio Grande do Sul, a Polícia Civil anunciou que vai liberar a solicitação de medida protetiva de urgência pela internet. A decisão, que vinha sendo planejada, foi acelerada diante da gravidade dos crimes e da urgência em ampliar o acesso das mulheres ao principal instrumento legal para romper o ciclo de violência.

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O novo serviço deve ser lançado ainda nesta semana. Com ele, mulheres em situação de risco poderão pedir proteção sem precisar sair de casa ou enfrentar a burocracia e o medo de ir até uma delegacia. O canal virtual deve funcionar 24 horas por dia e será integrado ao sistema de registro de ocorrências da Polícia Civil.

Medida protetiva: um direito que ainda não chega a todas

De acordo com a Polícia Civil, a maioria das vítimas de feminicídio no estado não tinha medida protetiva ativa. Estima-se que cerca de 90% das mulheres assassinadas por companheiros ou ex-companheiros não conseguiram, por diversos motivos, formalizar o pedido de proteção judicial.

O delegado Fernando Sodré, chefe de Polícia do RS, destaca que o medo e a dependência emocional ou financeira ainda são obstáculos. “Muitas mulheres sequer conseguem ir à delegacia denunciar. Esse novo sistema permite que o agressor não saiba da denúncia, aumentando a segurança da vítima”, afirma.

A ferramenta, que será lançada oficialmente nos próximos dias, permitirá o envio de denúncias e a solicitação imediata da medida protetiva. Após o registro online, o pedido será encaminhado ao Judiciário, que poderá deferir a medida em poucas horas.

Como funcionará o pedido de medida protetiva online

O novo sistema permitirá que a vítima acesse uma plataforma oficial da Polícia Civil e preencha um formulário digital. Nele, será possível relatar os episódios de violência, identificar o agressor e anexar provas, como fotos, prints de conversas e vídeos.

Uma equipe especializada analisará a denúncia, e o pedido de medida protetiva será encaminhado diretamente ao juiz de plantão. A medida poderá incluir o afastamento imediato do agressor, proibição de contato, restrição de acesso à residência e outras determinações de segurança.

O delegado Christian Nedel, diretor do Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis, reforça que a medida protetiva tem eficácia comprovada. “É o mecanismo legal mais importante que temos para romper o ciclo de violência. Agora, com o sistema digital, esperamos alcançar muito mais mulheres”, pontua.

Feminicídios em 24 horas escancaram a urgência de medidas eficazes

O anúncio da medida ocorre em um momento de extrema tensão no estado. Em menos de 24 horas, seis mulheres foram brutalmente assassinadas por seus companheiros ou ex-parceiros em diferentes cidades, como Parobé, Viamão, Santa Cruz do Sul e Bento Gonçalves.

Os crimes não possuem ligação entre si, mas têm em comum a motivação estrutural: o machismo. Segundo o delegado Sodré, trata-se de uma cultura enraizada de controle e posse sobre a mulher, que se manifesta em crimes bárbaros, muitas vezes anunciados por ameaças anteriores que não são levadas a sério.

Nenhuma das vítimas assassinadas tinha medida protetiva. Esse dado chocante reforça a tese de que o acesso à proteção precisa ser facilitado — e que a violência doméstica exige resposta imediata do Estado.

Medo, vergonha e isolamento: os obstáculos silenciosos da denúncia

Para muitas vítimas de violência doméstica, denunciar o agressor é um passo assustador. Há medo de retaliação, vergonha de se expor e, em muitos casos, isolamento social que impede até mesmo o contato com a família ou amigos. Por isso, a possibilidade de pedir uma medida protetiva de forma online pode salvar vidas.

O novo sistema também busca dar agilidade aos casos em que há risco iminente. Situações em que o agressor já ameaçou, agrediu ou tentou invadir a casa da vítima exigem uma resposta rápida, e o formato digital reduz a burocracia e o tempo de resposta.

Além disso, delegacias virtuais também ajudam mulheres que vivem em regiões afastadas ou que enfrentam dificuldades de mobilidade, tornando o acesso à Justiça mais democrático.

O papel da sociedade na prevenção do feminicídio

A luta contra a violência doméstica não é responsabilidade apenas das autoridades. Familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho precisam estar atentos aos sinais de abuso e agir quando perceberem algo errado. Denunciar é um ato de empatia e proteção.

No Rio Grande do Sul, denúncias anônimas podem ser feitas pelo telefone 0800 642 0121, e o número 180 segue como canal nacional para orientação e apoio a mulheres em situação de violência.

A expectativa é que a nova ferramenta online sirva como modelo para outros estados e ajude a reduzir os índices de feminicídio no país. Mais do que um avanço tecnológico, trata-se de uma medida urgente e necessária diante de uma realidade cruel.

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