Mapeamento da UFRGS identifica quase 17 mil deslizamentos durante as cheias no RS
Estudo mapeou cerca de 18 mil km² e identificou 16.862 movimentos de massa. Ação é fundamental para as medidas de prevenção e adaptação na Serra Gaúcha, no Vale do Taquari, no Vale do Rio Pardo e na Quarta Colônia

Entre maio e agosto de 2024, uma equipe de 50 integrantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), composta por professores, estudantes, técnicos e colaboradores externos, realizou um extenso mapeamento de aproximadamente 18 mil km² do território gaúcho. Com o auxílio de imagens de satélite de alta resolução, identificaram 16.862 deslizamentos e movimentos de massa provocados por chuvas intensas ocorridas no final de abril e início de maio.
Caxias do Sul lidera o número de áreas afetadas, com 656 cicatrizes de movimentos, seguida por Veranópolis, com 636.
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Esses dados foram divulgados na última terça-feira (29), por meio da Nota Técnica Conjunta 06, emitida pelo Instituto de Geociências (IGeo/UFRGS), pelo Laboratório Latitude/UFRGS e pelo Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM). A análise incluiu as principais bacias hidrográficas do estado, como Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto e Baixo Jacuí e Vacacaí-Mirim, abarcando 150 municípios da Região Hidrográfica do Guaíba, fortemente impactados por deslizamentos.
O mapeamento, que cobre a totalidade da área atingida na escarpa sul do Planalto Meridional-RS, pode ser consultado no “Webmapa de movimentos de massa para equipes de apoio na situação de calamidade/2024”, coordenado pelo professor Clódis Andrades-Filho e pelo mestrando Lorenzo Mexias. O Webmapa integra o Repositório de Informações Geográficas da UFRGS, criado para auxiliar na tomada de decisões em situações de desastre.
Segundo Andrades-Filho, a alta concentração de chuvas ocorreu principalmente no nordeste do estado, que abrange a Serra Gaúcha, o Vale do Taquari, o Vale do Rio Pardo e a Quarta Colônia, áreas com relevo acidentado. “Os movimentos de massa mais significativos, como deslizamentos, fluxos de detritos, queda de blocos e rastejo do solo, ocorreram entre 30 de abril e 2 de maio, afetando as encostas dos vales”, explicou o professor.
O levantamento inicial, divulgado em junho, havia identificado cerca de 5 mil cicatrizes em 40% da área estudada. Agora, com a análise completa, foram contabilizadas 15.376 cicatrizes e 16.862 pontos de ruptura, marcando os locais onde os deslizamentos tiveram início. Este evento foi registrado como o maior em número de movimentos de massa no Brasil, superando o desastre de 2011 no Rio de Janeiro, que registrou 4.300 cicatrizes.
Ao todo, 150 municípios foram afetados, com mais de 10 mil propriedades diretamente impactadas e muitas vias comprometidas. O mapeamento continua sendo uma ferramenta de suporte para autoridades públicas na formulação de políticas e ações de prevenção. “Os deslizamentos exigem uma resposta emergencial, mas também demandam a implementação de medidas para adaptação e prevenção de novos desastres, especialmente em áreas rurais de risco”, acrescentou Andrades-Filho.
Entre as recomendações de adaptação destacam-se:
- Obras de contenção e drenagem para minimizar a movimentação do solo em áreas vulneráveis;
- Zoneamento para restringir o uso do solo em áreas de alto risco e para a proteção ambiental;
- Capacitação de gestores, técnicos, agricultores e educadores sobre riscos geológicos e métodos de adaptação;
- Aperfeiçoamento dos sistemas de alerta, integrando dados técnicos sobre o risco geológico nas encostas.
O Webmapa, desenvolvido pela UFRGS, já auxiliou equipes de emergência durante o desastre de 2024 e será essencial para o planejamento de ações de recuperação e prevenção. “O grande desafio agora é transformar o conhecimento obtido em sistemas de alerta locais, que permitam uma resposta segura da comunidade a futuros eventos extremos”, conclui Andrades-Filho.
Método de Mapeamento
O estudo utilizou imagens de satélites de alta resolução, como as dos satélites World View, cedidas pela National Geospatial-Intelligence Agency (NGA), além de imagens fornecidas pela Força Aérea do Chile, Força Aérea Brasileira e pelo satélite sino-brasileiro CBERS 4.