Estudo alerta para eventos extremos até cinco vezes mais frequentes no Sul em razão das mudanças climáticas
O estudo mostra que, para cada real investido em sistemas de alerta e prevenção, até R$ 661 em prejuízos podem ser evitados

Um novo estudo coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) lança um alerta preocupante: as mudanças climáticas já estão tornando os eventos climáticos extremos no Sul do Brasil até cinco vezes mais frequentes. A pesquisa, elaborada por técnicos e cientistas de 15 instituições, destaca que o Rio Grande do Sul se tornou um dos pontos mais sensíveis do país diante do agravamento da crise climática.
O documento, intitulado “As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente”, aponta que chuvas como as de maio de 2024, consideradas sem precedentes na história brasileira, tendem a se repetir com mais intensidade e regularidade. Com base em projeções, eventos antes previstos para ocorrer a cada 50 anos podem se repetir a cada 10.
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Além disso, a pesquisa indica que a intensidade das chuvas aumentou entre 6% e 9% nos últimos anos, justamente por conta das mudanças climáticas. A tendência é que essa elevação continue, agravando ainda mais os impactos em áreas urbanas e rurais.
Sul do país concentra maior risco de cheias
Os dados reforçam que a Região Sul será a mais impactada pelas futuras inundações. De acordo com os especialistas, a magnitude das vazões máximas dos rios pode crescer cerca de 20%, o que eleva significativamente o potencial de destruição em caso de cheias.
Em locais como a Serra Gaúcha, por exemplo, o nível da água poderia subir até três metros a mais do que em 2024. Já em Porto Alegre, banhada pelo Guaíba, a alta pode variar entre 50 centímetros e um metro. Vale lembrar que, no evento extremo de 2024, o Guaíba atingiu o recorde histórico de 5,37 metros.
Falta de preparo agrava impactos de eventos climáticos
Apesar dos alertas anteriores, o Estado se mostrou vulnerável à tragédia. A falta de monitoramento em tempo real, aliada à carência de planos de evacuação e à baixa percepção de risco da população, contribuiu para a gravidade do desastre. Cerca de 40% dos atingidos pela enchente em Porto Alegre não sabiam morar em áreas de risco.
A superintendente de Estudos Hídricos da ANA, Ana Paula Fioreze, defende o fortalecimento das redes de monitoramento e dos sistemas de alerta. Segundo ela, garantir dados em tempo real é essencial para antecipar decisões e salvar vidas.
Além disso, o hidrólogo Fernando Fan, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), destaca que a informação é um recurso vital. “A população precisa saber onde mora, se está em área inundável, e o que fazer em caso de emergência”, afirma.
Investir em prevenção pode evitar prejuízos bilionários
O estudo mostra que, para cada real investido em sistemas de alerta e prevenção, até R$ 661 em prejuízos podem ser evitados. Esse dado reforça a importância de ampliar o monitoramento hidrometeorológico e de implementar políticas públicas baseadas na ciência.
Entre as medidas não estruturais propostas, estão o mapeamento de áreas de risco, a educação da população e a elaboração de protocolos de emergência. Já entre as ações estruturais, o destaque vai para a construção e modernização de diques e contenções.
No entanto, os especialistas ressaltam que obras físicas, sozinhas, não bastam. Muitas estruturas projetadas entre as décadas de 1960 e 1980 falharam durante a enchente de 2024, aumentando a tragédia. A manutenção e a atualização dessas defesas precisam acompanhar as novas realidades climáticas.
Tragédia de 2024 escancara urgência da adaptação para prevenir efeitos de eventos climáticos
A enchente histórica de maio de 2024 afetou diretamente cerca de 2,4 milhões de pessoas em 478 municípios gaúchos. Houve 183 mortes confirmadas e um rastro de destruição que deixou mais de 50 mil pessoas desabrigadas. O prejuízo econômico foi bilionário.
O relatório da ANA classifica o episódio como um marco trágico, mas também como uma oportunidade para repensar o futuro. As mudanças climáticas, antes vistas como uma ameaça distante, agora são uma realidade concreta e urgente.
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