Brasil está a cem dias da Copa do Mundo
Dos 12 estádios que receberão jogos, cinco não estão prontos, incluindo Beira-Rio
Dentro de exatos cem dias, com o início da Copa do Mundo, o Brasil será oficialmente a capital mundial do futebol. Os preparativos para a competição, no entanto, parecem longe de concluídos. Dos 12 palcos para os 48 jogos, cinco ainda sequer estão prontos, incluindo o Beira-Rio, em Porto Alegre.
Em relação aos estádios, os casos que mais preocupam a Fifa são o Itaquerão e a Arena da Baixada, em Curitiba. A capital paranaense por pouco não foi excluída do Mundial, tamanho o atraso nas obras do estádio do Atlético-PR. A Fifa, porém, teve a garantia de que tudo estará pronto no novo prazo e deu seu aval. A previsão é de que no dia 29 de março aconteça o primeiro jogo-teste.
O caso paulista também preocupa. No final de semana, em Zurique, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, chegou a afirmar que o estádio do Corinthians só estará pronto no dia 15 de maio, a menos de um mês da Copa. A construtora responsável pela obra, no entanto, contrariou as informações do dirigente e garantiu a entrega em abril.
Há outras situações de estádios ainda pendentes. Entre elas, está o Beira-Rio, que depende da finalização da cobertura, além de obras de acabamento e do entorno. A Arena Pantanal, em Cuiabá, tem 95% das obras concluídas e deve ser entregue em março. No mesmo mês, a Arena Amazônia, em Manaus, também será inaugurada.
Fifa e governo afinam discurso
A pouco mais de três meses do início do Mundial, o governo federal e a Fifa afinam um mesmo discurso para tentar minimizar o crescimento do discurso contrário à realização da Copa do Mundo no país. Por parte da entidade, a tendência é que o foco fique restrito às questões ligadas ao futebol. Já o governo deve abandonar a defesa do legado da competição para o Brasil e focar na paixão do brasileiro pelo futebol. “Agora todos os problemas estão sob controle e daqui a cem dias haverá um início excepcionalmente bom para uma competição excepcional: a Copa do Mundo no Brasil, o país do futebol”, afirmou Blatter.
A maior preocupação do governo continua sendo com a provável repetição das manifestações vistas no ano passado, durante a Copa das Confederações. Ainda que pesquisas indiquem que os protestos não devem ter a mesma intensidade de 2013, o receio é grande. Para conter eventuais excessos, mais de 150 mil policiais serão mobilizados nas 12 cidades-sede.
Para reforçar o poderio de segurança do país, o governo negociou com a empresa sueca Saab a compra de um sistema de defesa antiaérea que será utilizado em grandes eventos, como o Mundial. O sistema conta com mísseis, simuladores e equipamentos de visão noturna.
As autoridades já admitem que nem todas as obras previstas para o Mundial estarão prontas. O ministro do Turismo. Gastão Vieira, lembra que turistas que vierem ao país, mas não para os jogos, podem enfrentar problemas de deslocamento, por exemplo. Já o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, comemora o fato de que as obras estão em andamento e que questões como segurança e comunicação serão resolvidas até junho. ‘Vamos pensar positivamente. Em cem dias, Napoleão reconquistou a França. Dá para fazer muita coisa’, compara o ministro.
O imbróglio das temporárias
É de R$ 35 milhões a quantia necessária para construir uma série de instalações que são fundamentais para a realização da Copa do Mundo no Beira-Rio, como salas de imprensa e de tecnologia de informação, segurança, estacionamentos, salas de credenciamento, tendas para voluntários, detectores de metal, geradores, entre outros. A falta deste dinheiro – ou a falta de uma fonte pagadora para as tais estruturas temporárias – deixa o Rio Grande do Sul sob suspense desde o início do ano, quando se intensificou a troca de farpas entre gestores públicos e dirigentes do clube.
Cada lado joga para o outro a responsabilidade pelas estruturas temporárias. O Inter diz que não tem dinheiro e, mesmo que tivesse, não pagaria por não considerar-se o responsável pelos investimentos. Já os entes públicos, leia-se Prefeitura Municipal de Porto Alegre e governo do Estado, até gostariam de fazer o investimento para livrar-se dos problemas, mas se veem de mãos atadas pelo Ministério Público, que não concorda com a oneração dos cofres públicos.
Para solucionar o imbróglio, o governo do Estado, a prefeitura e o Inter formularam um projeto de lei que prevê a busca de patrocinadores na iniciativa privada que poderão trocar o investimento por incentivos fiscais. O projeto está na Assembleia Legislativa, onde até agora não houve acordo para acelerar sua tramitação. Além da aprovação por parte da Assembleia, é necessário encontrar um patrocinador interessado, o que não ocorreu.
Em 2010, obras inacabadas
A Copa do Mundo da África do Sul começou com o entorno de um dos principais estádios, o Ellis Park, localizado em Johannesburgo, ainda em obras. Mas o principal problema foi o atraso na construção de rodovias. A estrada entre Johannesburgo e Port Elizabeth estava inacabada e, em muitos locais, só funcionava uma via. Um drama para quem não conseguiu se descolar de avião, outro setor precário, já que são mais de mil quilômetros.
Sempre que perguntavam ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, qual a maior preocupação sobre a infraestrutura para a Copa de 2014, ele respondia: “Os três principais problemas são aeroporto, aeroporto e aeroporto”.
Não houve problema com as estruturas temporárias, pelo menos nos estádios em que estive, embora algumas não ficassem tão perto do estádio como se gostaria (o Gigantinho seria perfeito como estrutura temporária do Beira-Rio), com alimentação e estada. Talvez o maior problema da Copa da África tenha sido o seu custo final e o legado, alguns elefantes brancos.