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19 de maio de 2025
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Brasil envia sementes tradicionais para o “Cofre do Juízo Final” na Noruega

A preservação dessas sementes e a colaboração com o Banco Global de Sementes de Svalbard são fundamentais para a garantia da segurança alimentar global e para a adaptação da agricultura às mudanças climáticas e outros desafios ambientais no futuro


Por Pablo Bierhals Publicado 28/02/2025
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Foto: Freepik/Ilustrativa. Sementes sortidas.

Um marco importante na preservação da agrobiodiversidade brasileira foi alcançado com o envio de sementes de cultivares tradicionais para o Banco Global de Sementes de Svalbard, na Noruega, na última terça-feira (25). Conhecido como o “Cofre do Juízo Final”, o local abriga cópias de segurança de sementes de todo o mundo, com a missão de garantir a diversidade genética de cultivos agrícolas diante de catástrofes naturais, mudanças climáticas e outros desafios globais. As sementes foram enviadas pela Associação dos Guardiões de Ibarama, localizada no Rio Grande do Sul, e incluem variedades cultivadas na região.

O envio inclui 59 tipos de sementes, entre eles milho, feijão-comum, trigo, couve, salsa, alface, tomate, ervilha, coentro, feijão-fava, melancia, amendoim, arroz, abóbora, radiche, gergelim, amaranto, linhaça, girassol e quiabo. A ação é uma continuidade do esforço de preservação realizado há gerações pelas famílias de agricultores da região, que vêm mantendo esse patrimônio para as gerações futuras.

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Reconhecimento ao trabalho dos Guardiões de Ibarama

Para Mário Raminelli, presidente da Associação dos Guardiões de Ibarama, o envio das sementes para o banco de Sementes de Svalbard representa o reconhecimento pelo trabalho árduo realizado ao longo dos anos. “Ter as sementes da nossa região guardadas em uma casa-forte de sementes, tanto na Embrapa quanto na Noruega, é um grande reconhecimento. As famílias de guardiões vêm mantendo esse patrimônio há gerações e agora sabemos que ele estará protegido para o futuro”, afirmou Raminelli.

A pesquisadora Aluana Gonçalves de Abreu, supervisora da Curadoria de Germoplasma Vegetal da Embrapa, destacou que, apesar de outras variedades tradicionais já terem sido enviadas ao banco de Svalbard, esta é a primeira vez que uma associação de agricultores realiza a multiplicação de sementes com o objetivo exclusivo de preservar cópias de segurança tanto no Brasil quanto na Noruega.

Parcerias e apoios para a conservação da Agrobiodiversidade

A produção e seleção das sementes enviadas ao Banco de Sementes de Svalbard contaram com o apoio da Embrapa Clima Temperado, da Universidade Federal de Santa Maria e da Emater-RS. O processo é resultado de um acordo de cooperação técnica, que integra a conservação das variedades nos locais de origem (in situ/on farm) com a conservação em coleções de germoplasma (ex situ), que garantem a manutenção da diversidade genética.

Antes do envio, as amostras passaram por rigorosos testes de germinação realizados na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, assegurando que apenas sementes de alta qualidade fossem enviadas para o armazenamento.

A parceria entre a Embrapa Clima Temperado e a Associação dos Guardiões de Ibarama remonta a 15 anos, com o início de um projeto focado na identificação e fortalecimento dos guardiões de variedades tradicionais no Rio Grande do Sul. “O trabalho desses agricultores é fundamental para a conservação da agrobiodiversidade, garantindo a preservação de variedades em risco de extinção e mantendo a diversidade genética dos cultivos, o que é essencial para a adaptação às mudanças climáticas”, enfatiza a pesquisadora Rosa Lía Barbieri.

Além das 59 variedades de Ibarama, o envio incluiu 2.944 amostras de arroz, feijão-comum, milho, pinus e trevo das coleções da Embrapa. O envio foi possível graças ao projeto internacional Biodiversidade para Oportunidades, Meios de Vida e Desenvolvimento (BOLD), apoiado pela Crop Trust, organização dedicada à preservação e disseminação da diversidade agrícola mundial.

A importância do Banco Global de Sementes da Noruega

O Banco Global de Sementes de Svalbard, localizado no arquipélago de Svalbard, na Noruega, foi inaugurado em 2008 com a missão de preservar a diversidade genética de cultivos agrícolas essenciais. Embora seja apelidado de “Cofre do Juízo Final”, seu principal objetivo é proteger a agricultura mundial contra catástrofes mais localizadas, como desastres naturais, guerras e mudanças climáticas. O local armazena duplicatas de sementes de variedades agrícolas fundamentais para a alimentação humana.

As sementes são guardadas em câmaras subterrâneas dentro de uma montanha, a mais de 100 metros de profundidade, com temperatura controlada a -18°C. O banco possui atualmente mais de 1,3 milhão de amostras de sementes, representando mais de 6.000 espécies de plantas, incluindo diversas variedades brasileiras. O Brasil estabeleceu sua parceria com o Banco de Sementes de Svalbard em 2008, e desde 2012 a Embrapa já enviou mais de 8 mil amostras de sementes para o local.

O papel crucial do Banco Genético da Embrapa

O Banco Genético da Embrapa, localizado em Brasília, é uma das maiores instalações do mundo dedicadas à conservação de recursos genéticos agrícolas. Com a capacidade para armazenar até 750 mil amostras de sementes a -18ºC, o banco desempenha um papel vital na preservação da biodiversidade agrícola brasileira. Além das sementes, o banco também mantém coleções in vitro e realiza a criopreservação de materiais genéticos, assegurando a conservação de espécies de difícil manutenção por meio de sementes, como mandioca, batata, banana, uva e cana-de-açúcar.

O trabalho conjunto entre o Banco Genético da Embrapa e as unidades de pesquisa da Embrapa em todo o Brasil garante que, em caso de perdas locais, os materiais genéticos possam ser recuperados e utilizados para pesquisa, preservando assim a agrobiodiversidade do país.

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