Ataque à escola de Charqueadas foi planejado por pelo menos três meses, diz delegado
Investigação vai analisar celular e redes sociais do autor confesso para coletar mais provas
O adolescente que confessou ter atacado alunos de uma escola de Charqueadas a golpes de machadinha nesta quarta-feira (21) planejava o ataque há pelo menos três meses, afirma a Polícia Civil. Ele confirmou, em depoimento, detalhes sobre o planejamento do ataque, inclusive fornecendo informações sobre a data em que comprou a gasolina usada para a fabricação de coquetéis molotov.
O adolescente tem 17 anos e está internado provisoriamente em uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase).
Aluno do Instituto Estadual de Educação Assis Chateaubriand até 2015, o autor confesso entrou pelo portão principal da escola no começo da tarde depois de ter deixado a irmã no colégio. Segundo o relato feito à polícia, ele foi até o local para matar um desafeto, ex-colega dele.
— Levando a irmã até a escola, ele aproveitou para monitorar esse desafeto. Mas ele o perdeu de vista e entrou em outra sala de aula, não tinha certeza de que o menino estava lá. Ele resolveu entrar e acendeu o coquetel molotov — relata o delegado Marcos Schalmes, que investiga o caso.
A Polícia e o Ministério Público ainda têm dúvidas se esse desafeto mencionado pelo adolescente realmente existe. No relato feito às autoridades, três horas depois de ter sido apreendido, ele disse que não sabia o nome do ex-colega, somente o apelido. Por isso, a investigação tenta coletar outras provas.
Depois de ter acendido o coquetel molotov em frente a uma sala de aula, o adolescente agrediu alunos a golpes de machadinha. Dois foram agredidos pelos cortes e dois sofreram escoriações — os quatro foram atendidos no hospital da cidade e liberados, assim como outros dois estudantes que estavam abalados psicologicamente. Após o ataque, o adolescente fugiu, deixando no local uma mochila contendo itens para fabricação de coquetéis molotov, gasolina e outros objetos.
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O ataque chamou a atenção de pessoas que conviviam com o adolescente, já que ele nunca teria demonstrado atitudes violentas ou mudança súbita de comportamento. Ele não se disse arrependido depois de ter sido capturado, conforme o delegado:
— Conversando, ele não demonstra nenhum perfil de agressividade. Mas não olha nos olhos, abaixa a cabeça, é mais reservado. Menciona que, durante o período em que ele estudou lá, esse desafeto, além de agredi-lo, o chamava de “mudinho”, colocava apelidos. Mas, na escola onde ele estuda, tem amigos e uma vida social normal.
Aos policiais, o adolescente revelou o desejo de cometer suicídio após o ataque e disse que se inspirou no massacre ocorrido em uma escola em Suzano, em São Paulo. No local onde está internado, ele deverá receber acompanhamento psicológico. Para a promotora de Justiça da Infância e da Juventude de Charqueadas, Daniela Fistarol, a medida é essencial:
— É bem peculiar a postura dele. Ao mesmo tempo que não demonstra arrependimento, também não demonstra periculosidade. Me chamou muita a atenção. Pelo jeito, todo mundo foi pego de surpresa. Não se sabe o que se passa na cabeça de um menino que, aparentemente, não tinha nenhum problema. Os professores são as principais pessoas que têm contato com o aluno no dia a dia, eles sabem quando os alunos mudaram de postura de uma hora para outra. Esse menino precisará de acompanhamento psicológico.
Redes sociais serão analisadas
Após a apreensão do adolescente, a investigação segue buscando provas para comprovar pontos da história relatados pelo adolescente. O celular dele, apreendido junto com a mochila, será analisado, assim como as redes sociais.
A polícia também busca identificar se alguém ajudou o adolescente no planejamento do ataque. Isso deve ser investigado a partir de agora.
— Vamos aprofundar as investigações para verificar se o adolescente se comunicava com outras pessoas, se teve colaboração no planejamento da ação criminosa. Durante o interrogatório, ele disse que não, mas queremos confirmar ponto a ponto — diz o delegado.
Outro ponto que causa estranheza aos policiais é o fato de um mapa ter sido encontrado dentro da mochila, junto com os artefatos usados no ataque. Segundo Schalmes, o mapa não tem relação com a localização da escola, mas a ligação dele com o ataque será investigada.
Responsabilização
Tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público devem apontar o adolescente como autor de tentativas de homicídio. Os detalhes, no entanto, só serão definidos ao término das investigações.
Ele poderá ficar internado provisoriamente por 45 dias e, nesse período, a Justiça da Infância e da Juventude de Charqueadas deverá tomar uma decisão sobre a medida socioeducativa aplicada. Se a sentença for por internação, ele poderá ficar até três anos recolhido, mesmo depois de completar 18 anos.
Por que não identificamos as vítimas?
O Clic Camaquã não divulga os nomes dos jovens feridos no ataque à escola em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Eles são considerados menores em situação de vulnerabilidade.