“O Pacificador”

Dirigida e escrita por James Gunn “O Pacificador” nos apresenta uma história divertida e muito violenta de um herói, ou quase isso, traumatizado.
Essa nova fase da DC tem início quando o diretor em questão, foi afastado dos estúdios da Marvel (Disney) por conta de uma série de tweets antigos, tweets extremamente preconceituosos. Porém, era de se esperar, que o mesmo não fosse ficar longe das telinhas por tanto tempo, e logo veio o convite da Warner/DCEU (universo estendido da DC), oferecendo um leque de opções pro mesmo, tendo uma vasta opção de heróis, anti-heróis e personagens mais conhecidos, ele optou pelo Esquadrão Suicida, tendo carta branca para realizar o projeto, e acarretando no que o diretor queria, um filme feito para +16. Vide o sucesso com o público e a crítica que a obra obteve, James Gunn ganhou ainda mais liberdade dentro da DC, e com isso saiu o primeiro “spin-off”: The Peacemaker (O Pacificador), o personagem de John Cena, famoso lutador da WWE, que foi apresentado no filme.
Depois dos eventos de “O Esquadrão Suicida”, o Pacificador (John Cena) sai do hospital e é novamente recrutado pela Argus (agencia de inteligência governamental) para caçar as “borboletas”, seres alienígenas que estão controlando a mente de pessoas influentes e em posições de grande poder. A nova missão também coloca o personagem em rota de colisão com o pai, Auggie, o vilão Dragão Branco (Robert Patrick), que é líder de uma gangue de supremacistas brancos.
Desde as primeiras cenas quando um faxineiro do hospital faz piada com o fato do Pacificador ser um exterminador de minorias, já fica claro que James Gunn quer usar essa trama e o personagem como um indiciamento desses heróis violentos que acham que matar os inimigos resolve tudo.
Assim como no filme, o roteiro usa ironia para apontar o paradoxo do raciocínio do protagonista de que matar qualquer um em nome da paz é uma piada, não faz sentido algum. A série é esperta em dar o devido peso ao fato dele ter matado seu companheiro de missão Rick Flag (Joel Kinnaman), em nome da paz. As últimas palavras de Flag, chamando o Pacificador de piada, ecoam no personagem ao longo de toda a temporada. O impacto de ter matado Flag faz o protagonista revisitar o passado e nos mostrar a criação abusiva que ele teve do pai racista e o trauma de perder o irmão que o moveu a esse ideal deturpado de paz. Na verdade, conhecendo de onde ele veio, é surpreendente que o Pacificador não tenha se tornado um supremacista cruel como o pai.

Um acréscimo na série foi a introdução do Vigilante (Freddie Stroma), o texto nunca reduz o Vigilante a um mero psicopata, colocando nele uma certa medida de ingenuidade e solidão que lhe confere uma infantilidade sem nos fazer esquecer que ele é maluco e violento. Falando em violência, a série oferece sequências de ação bem conduzidas, que divertem muito por essa violência exagerada.
A construção do laço entre o Pacificador e o resto da equipe da Argus, como Economos (Steven Agee), Harcourt (Jennifer Holland) e Adebayo (Danielle Brooks), tem boas doses de humor, mas encontra espaços para construir uma emoção genuína entre o grupo, da mesma forma que Gunn fez nos filmes dos Guardiões da Galáxia e também em O Esquadrão Suicida. Ao longo da série, cada personagem tem seu momento sob os holofotes e conseguimos entender a motivação de todos, inclusive com o desfecho que traz desenvolvimentos significativos para cada um, com arcos fechados de maneira satisfatória, desde os mais importantes aos mais escanteados.

Falando em desfecho, a ameaça das borboletas acaba servindo para o Pacificador ponha a prova a reavaliação que vinha fazendo de suas convicções. Durante o confronto final, o personagem é colocado diante da escolha de seguir o que vinha fazendo e endossar que as borboletas exerçam um controle absoluto em nome da paz ou desafiar tudo isso entendendo que os fins não justificam os meios e que o caminho da perdição pode ser pavimentado por boas intenções.
Tendo assistido sem muitas expectativas, fiquei surpreso que essa primeira temporada de Pacificador tenha conseguido entregar um consistente estudo de personagem, dando complexidade a um protagonista que ninguém esperava que pudesse render algo interessante. Só pra não deixar passar batido, o melhor amigo do personagem é uma águia, cujo nome dela é exatamente esse, “eagle”.
Como falei no texto de O Esquadrão Suicida: James Gunn o seu lugar é na DC!