O papel do voto clientelista nas eleições de 2024
Leia a coluna de Elis Radmann, cientista social e política e diretora do Instituto de Pesquisa e Opinião.
Quando a democracia foi pensada, se imaginava o voto por critérios políticos. Significa dizer que a decisão do voto estaria associada ao interesse de classe, ideologia ou proposição.
Infelizmente, tem se visto que a prática política de muitos candidatos motiva o voto pela imagem, pela rede de relacionamento ou pelo clientelismo, movimentando o toma-lá-dá-cá. A cultura política de uma parcela do eleitorado responde a esse apelo dos candidatos populistas, votando pela sensação de que terá um benefício, de que receberá um auxílio ou até mesmo um favor.
Pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, demonstram que 10% da população tomam a decisão na última semana, motivados por possíveis benefícios diretos ou indiretos.
O fenômeno do clientelismo é maior em campanhas para vereador, nas quais o relacionamento entre o candidato e a comunidade é mais intenso.
O clientelismo direto ocorre quando um candidato a vereador atua como “despachante”. Usa seus conhecimentos e sua rede de relacionamento para beneficiar o seu eleitor e, em alguns casos, utiliza a estrutura do governo vigente.
Resolve problemas pessoais dos eleitores, intervém para que o seu eleitor passe na frente em uma fila institucional (para realizar um exame ou conseguir uma matrícula em uma escola). Na prática, acaba sendo um grande propagador do jeitinho brasileiro: dá um jeitinho para conseguir uma vantagem para o seu eleitor. Há casos em que o clientelismo direto também se arrisca entregando donativos, doando cestas básicas, telhas ou até mesmo fraldas.
O clientelismo indireto se dá quando um candidato a vereador se utiliza das estruturas comunitárias, organizações não governamentais ou até mesmo da reputação de líderes locais, associando-os à sua imagem. Esse candidato cria uma confusão na cabeça dos eleitores, passa uma mensagem de que os benefícios recebidos na comunidade ou pela entidade são frutos de seu trabalho.
Esses candidatos clientelistas atuam em comunidades carentes, que estão mais preocupadas em sua subsistência básica do que em prestar atenção no papel clientelista dessa relação.
A Justiça Eleitoral se esmera para ampliar a descrição das práticas clientelistas, definindo que “compra de voto é a doação, o oferecimento, a promessa, ou a entrega, pelo candidato, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, de bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição”.
Para combater o clientelismo são necessários vários movimentos simultâneos: a) ampliar a educação política, informando a população de que direito é diferente de favor; b) um combate ao jeitinho brasileiro, c) denúncia sistemática dessas práticas à Justiça Eleitoral; d) maior transparência e eficiência do serviço público, para que a figura desses candidatos despachantes seja desnecessária.